sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A última nota (As notas da canção que choram)



Um grande piano branco no centro da sala imponente conferia um ar imaculadamente austero, ela sentou-se ao banco em frente ao piano, fechou os olhos momentaneamente, a respiração descompassada, esticou as mãos às teclas e começou a tocar, não era uma melodia conhecida ou famosa, era a sua composição, falava de amor, de paixão ardente, jurava eternidade... foi feita para o homem que amava, as notas da canção choravam com ela, lágrimas molhavam seu rosto enquanto tocava perdida em pensamentos. 

Um piano branco e uma mulher vestida de preto tocando uma melodia de amor, que antes era sua declaração, e hoje entoava seu adeus.

As teclas afundavam sobre seus dedos, quase violentamente, estava afogando suas mágoas, estava ensurdecendo seu sofrimento. 

Seu coração sangrava a cada nota tocada, a música prometia um amor eterno, fazia promessas, cantava sua felicidade, e hoje ela dizia claramente sobre sua agonia. 

O choro tornou-se compulsivo, a melodia instável, seu coração pulsava com as teclas e seus olhos estavam fechados banhados em lágrimas. Feridos!

De repente a música cessou, apenas um silêncio sepulcral inundava a sala, um suspiro doído, alto e langoroso, seus ombros balançavam em desespero. 

Sentiu que se perdia, seu sofrimento lhe ardia os ouvidos sem a música, com os olhos embaçados voltou a tocar a mesma canção, e cada nota que tocava, morria um pouco mais por dentro. 

"Te amarei por uma vida inteira, e ainda assim te amarei pouco, te amarei menos do que merece, meu grande amor." A letra da música ressoava ritmicamente, como uma prece, uma promessa, uma súplica... uma maldição. 



"Rogo-te que me ame, apenas! Meu coração é teu, meu grande amor."




Soluçou, a dor esmagando sua alma... seu coração havia sido sepulcrado junto com ele, junto com seu grande amor, eternizado em uma música, perdido pra sempre para a morte.

Ela gritou, apertando as teclas em fúria, sentindo as lágrimas acariciar seus lábios, salgadas e tristes, como um beijo molhado de adeus.

A música continuava preenchendo a sala vazia, as notas deslizavam por seus ouvidos, ecoavam em seu coração. A música já não tinha inicio e ela adiava o fim!

Engasgou com a dor das lembranças, das noites frias e chuvosas que passavam se amando, dos dias alegres aos domingos que o acordava com essa música, do piano branco que foi testemunha silencioso desse amor, das notas tocadas com o corpo enquanto se amavam. Dos dois unidos como uma melodia em tom maior.

Deus, nunca mais o tocaria, o beijaria. Nunca mais!

Sufocou mais uma vez o desespero, tocando com ânsia e agonia, tentando apagar as imagens do homem que amou uma vida inteira deitado em um caixão frio, sem vida.

Hoje não estava frio, não chovia... o tempo brincava com a sua tristeza, os raios de sol infiltrava pela janela, banhando com o calor seu corpo que estava perdido em uma tempestade, seus sentimentos nublados via o sol como um invasor, machucando sua alma angustiada. 

Tudo ficara cinza para ela, sem cor, sem vida, sem amor. Apertou a tecla dessa vez delicadamente, a última nota, o fim da música, o seu adeus final, sussurrou seu amor e pôs fim ao tormento, nunca mais tocaria um piano, nunca mais tocaria essa canção. Jurou!

Seu amado havia morrido e junto com ele a música e o amor, calando seu coração, riscando os versos da canção, apagando a chama da paixão. Escuridão!

Com os olhos fechados entoou a música em uma prece de adeus e chorou no silêncio, jurando amor eterno pra seu eterno amor.




"Te amarei por uma vida inteira, e ainda assim te amarei pouco, te amarei menos do que merece, meu grande amor." 




Segurando o coração em suas mãos, respirou profundamente, levantou lentamente do banco, fechou o piano, pegou a partitura de sua música, e saiu em silêncio, sem olhar pra trás, guardando lembranças e despedindo-se do seu lar. Do seu lar com ele. Sem ele, aquela era apenas uma casa, vazia e sem amor.




"Rogo-te que me ame, apenas! Meu coração é teu, meu grande amor."




O som da porta se fechando atrás dela era o som da sua despedida, uma sinfonia em lágrimas escorriam pelo seu rosto, a dor intensificava em seu coração.




Adeus, meu grande amor!




Ainda podia ouvir sua melodia tocando em seus ouvidos, serviam de fundo musical para suas lembranças, gravadas em sua memória. Imortalizadas em sua alma. 




"Te amarei por uma vida inteira. Te amarei a minha vida inteira".




E partiu. Levando consigo apenas o seu amor e a sua canção.



— Rosi Rosa







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