segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Página de amigos




Ele quer amizade, depois de provar o amor ao lado dela. Encontrou outro alguém. Outro amor.
Ela o quer, apenas. Amor, e nada mais. Ele, e nada mais.


Ele ligou terminando
Tudo entre eu e ele
E disse que encontrou
Outra pessoa...
O telefone tocou insistentemente, inundando o silêncio persistente e calmo do meu quarto. Era ele.
— Alô? - Inseguro, ele falou num tom macio de voz. Sorri largamente de alegria. Como eu o amava.
— Alô. - Disse num longo suspiro apaixonado, desejando ele ali comigo para uma noite de prazer e excitação. Uma noite inteira de amor em seus braços, sentindo o seu cheiro. Sentindo o seu coração bater próximo ao meu com aquela paixão desenfreada que ele sentia toda vez que fazemos amor.
Silêncio. Algo estava errado. Eu sentia o meu coração fremir perigosamente de ansiedade e de expectativa.
— Eu quero terminar. - Ele disse assim, sem rodeios, sem meias palavras. Sem hesitações. Meu coração começou a bater num ritmo acelerado, ao mesmo tempo em que sentia os meus joelhos bambearem e o meu corpo se retesar de surpresa e medo. Eu realmente tinha ouvido aquilo? Ele realmente tinha dito aquilo?
Terminar?
— Amor... - Comecei a falar num sussurro inquietante. Ele me interrompeu com um riso insensível, quase cruel.
— Eu encontrei outra pessoa. Me apaixonei por outra pessoa. - Eu reprimi um grito ao ouvir aquela sentença dita com indiferença e egoismo. Outra pessoa? Outra paixão? Quem? E eu? E nós? E o nosso amor? E tudo o que vivemos? Acabou?
Terminar! Tudo?
Resmunguei uma resposta, um grunhido, não sei, eu não tinha mais voz, eu não tinha mais chão. Eu não teria mais ele ao meu lado? As lágrimas desciam lentamente por meus olhos, escorrendo por meu rosto, molhando meus lábios trêmulos, manchando o meu amor por ele.
— Eu... Eu não estou entendendo. - Gaguejei, a voz baixa, estremecida. — Você. Encontrou. Outro. Alguém? E. Eu? - Falei pausadamente, respirando fortemente, soluçando as palavras fracamente.
— Eu sei que você ainda me ama. Eu sei que te amei. Mas acabou. - Ele estava tão calmo, a voz num tom tão suave, enquanto o meu coração se revoltava dentro do meu peito agitado.
— Amou? Acabou? - As palavras deixavam a minha boca num tom incerto, inseguro, incompleto. Devagar e sofrido. Eu te amo, quis dizer alto. Eu te amo, quis gritar.
— Entenda, o meu amor por você acabou. - Poucas palavras. Nenhum sentimento. Muito sofrimento.

Ele jogou os meus sonhos
Todos pela janela
E me pediu pra entender
Encarar numa boa...
Um sorriso. Dele.
Novas lágrimas. Minhas.
— Talvez seja melhor você esquecer nossos beijos, nossos abraços, nossos momentos juntos. - A voz dele saiu sedutora e fatal. Cruel demais. Insensível demais.
Nossas lembranças. Nossos beijos. Nossos abraços. Todos os momentos ao lado dele... Esquecidos?
— Esquecer tudo? - Disse, mordaz, infeliz. Inclinei o corpo, com a ponta dos dedos toquei meu peito, o coração saltitava desesperado, passei a língua ao longo dos meus lábios cerrados, lambendo o sal de minhas lágrimas. Sentindo um vazio, uma dor. Sentindo tanta tristeza e amargura.
Um novo silêncio preencheu aquele momento de angústia. Um estranho silêncio.
— Esquecer tudo? - Repeti num murmúrio, minha voz soou fraca e cheia de medo, forçando um sorriso frio e melancólico nos lábios estremecidos.
— Sim. - Ele disse com uma firmeza exagerada. Uma resposta curta, direta, dolorosa. E pra machucar ainda mais meu coração, ele brincou comigo... — "Por favor entenda o seu nome vai ficar na minha agenda na página de amigos".– Ele disse isso em poucas palavras. Tão lentamente. Tão certo. Tão distante. Indiferente à tudo o que vivemos juntos. Indiferente ao sofrimento que me causava com aquele rompimento repentino.
Ele havia se apaixonado por outra? Como? Quando? E ele queria ser meu amigo depois de tudo o que vivemos juntos? De todo o amor que sentimos?
— Como é que eu posso ser amiga de alguém que eu tanto amei? – Abruptamente gritei, desesperada, perdida, rejeitada. Rindo nervosa. Ouvindo os compassos frenéticos de meu próprio coração se quebrar em vários pedaços.
O que fazer? Implorar? Mas amor não se implora. Não se pede. Ou ama ou não ama. Será que eu amei sozinha todo esse tempo?
Silencioso, eu ouvia apenas o ressoar forte de sua respiração compassada. Será que ele não se sentia culpado por destruir os meus sonhos e planos com ele?
Encostei na porta e fui deslizando vagarosamente até o chão frio, esperando ele falar alguma coisa, qualquer coisa. Eu estava confusa e vulnerável. Eu estava despedaçada.
Ele não disse nenhuma palavra. Nada.
— Certo. - Disse relutante, aceitando o fim. Aceitando que não teria mais seus beijos. Aceitando que não teria mais seus toques. Aceitando que o perdi... pra outra. Outra.
Do outro lado da linha, a risada dele foi inesperada e rude.
Eu aproximei meus lábios ainda mais do telefone e declarei num sussurro, suplicando.
— Você disse que seria pra sempre. Que nós seriamos pra sempre. Que... - Ele me interrompeu com agressividade e raiva.
— Ninguém pode prometer que algo será para sempre. Nada é pra sempre. - Ele retrucou com voracidade, as palavras sendo cuspidas com sarcasmo. E desligou. Me deixou. Sozinha. A solidão insuportável querendo me abraçar a força, a casa vazia, o coração vazio, a vida vazia. Meus olhos brilhavam com lágrimas derramadas. Meu corpo inteiro estremecendo de sofrimento e mágoas.
Ele deixou sua marca de diferentes maneiras em minha vida, em meu corpo, em minha alma. E agora?
Sem amor. Sem paixão. Cruelmente rejeitada. E eu apenas queria amá-lo, pela última vez. Última vez?


Não sei o que eu vou fazer
Pra continuar a minha vida assim
Se o amor que morreu dentro dele
Ainda vive em mim...
Amigos? Seremos amigos? Soltei o telefone que caiu no chão ruidosamente e abracei o meu corpo com força bruta.
Como é que eu posso ser amiga de alguém que eu tanto amei?
Perdida em pensamentos, sentimentos e sensações, chorei a noite toda, esperando ele entrar por aquela porta, sorrindo daquele jeito debochado e sexy, dizendo que tudo fora uma brincadeira. Uma terrível brincadeira.
Não foi. Ele não voltou. E eu tive que enfrentar os dias de solidão com a cabeça erguida e o coração partido.
E hoje, depois de alguns meses, ainda sofro com o silêncio e a tristeza de mais um dia sem ele.
Ele ligou. Não atendi. Como ele quer ser meu amigo, se o amor que morreu dentro dele ainda vive em mim?

—  Rosi Rosa




N/A: Texto inspirado na música Página de amigos (Alexandre/Rick).
 Vídeo aqui




sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Era amor



Ele, professor.
Ela, aluna. 
Um amor impossível? 
Um romance proibido?

— Defina desejo. – Ele disse com um desafio na voz, perigosamente suave, sensualmente ousado, os olhos brilhantes de paixão fixos na delicadeza do rosto dela.  Sutil beleza e inocência.

— O que eu sinto por você. – Hesitante, ela o fitou, os olhos verdes penetrantes, a boca levemente aberta, o coração aos pulos.

Ela parecia nervosa.

Ele encostou seu corpo contra o dela, o olhar faiscando excitação e sorriu-lhe.

Ele parecia divertido.

— E amor? Como você o define, querida? – Carinhoso, ele perguntou com ousadia misturado com o inesperado medo da rejeição e o gosto amargo do proibido.

Ela não encontrava as palavras certas, a resposta certa. Ou talvez, fosse a mesma resposta da pergunta anterior: O que eu sinto por você.

Ele a tocou suavemente. Ela o olhou rapidamente. Apenas pequenos toques e olhares rápidos.

— Sonhos, poesia, beijos, paixão, sorrisos, desejo, romance, compaixão, perdão, promessas, abraços, prazer, amizade, loucura, intimidade, generosidade, sensações, felicidade, carinho, silêncios, confiança, pecado... – Com uma leve piscadela, ela foi falando pausadamente, a voz baixa e profunda fazendo-o tremer de excitação e ansiedade, ela umedeceu os lábios lentamente com provocação, ele lhe deu um meio sorriso, perdidamente apaixonado e dolorosamente excitado, em seu olhar azul um desejo explícito com o movimento sexy da língua rosada nos lábios carnudos. — ... Você. – Terminou com um pequeno sorriso nos lábios, a voz sedutoramente rouca. Aquelas palavras prometiam prazer absoluto e amor eterno, ele ofegou longamente e depois beijou-a nos lábios, um beijo demorado e suave.

Segurando o corpo delicado e sensual, ele beijou-a profundamente mais e mais, provando todo o seu amor, instigando todo o seu desejo.

Ela sentia o sabor dos lábios dele no seu. Ele sentia todo o amor de seus lábios em cada simples toque da língua feminina na sua.

Talvez fosse amor. Era amor? Ela ainda duvidava desse sentimento único e avassalador. 
Era desejo. 
Era prazer. 
Era paixão e fogo.
Era pecado.
Era urgência.
Era proibido.
Subitamente, ela soube o que era...
Definitivamente, era amor.

Sentimentos e sensações se misturavam naquele beijo. Ele sorriu, puxando-a ainda mais para a curva do seu corpo masculino e pecadoramente excitado.

Ele sentia as batidas do coração dela contra o seu corpo. Dois corações. Uma batida. 

— Eu amo você demais. – Sussurrou junto a sua boca, sua respiração quase uma carícia, disfarçando o seu sorriso, ela o beijou de novo, um beijo mais urgente, mais pecador, mais íntimo, sentindo aquele corpo longo e rígido colado ao seu corpo miúdo e macio, sentindo as batidas fortes do coração dele junto ao seu próprio coração.
Dois corações. Uma batida.

Ela o abraçou com força. 
Ele a beijou com ímpeto.

A boca exigia tudo. Lábios. Língua. Saliva. Amor... Os dois sabiam que não poderiam resistir àquele sentimento.

Era amor. 
Um amor quase proibido.

Um amor inusitado entre uma jovem aluna universitária e o seu tímido professor versado, perfeitamente respeitável.

O doce frescor da inocência misturando-se com o fulgor ardente da experiência.

Um romance proibido!? 
Mas, pra quê se preocupar? 
Era amor. E ponto final.


O amor é um abraço apertado, um olhar que se encontra, um silêncio que não incomoda (...)
— Clarissa Corrêa


— Rosi Rosa







domingo, 13 de setembro de 2015

"Fica."




"Eu fiquei! De um jeito ou de outro eu fiquei! Eu esperei e esperei e você… Nada. Nem uma palavra, nenhuma atitude. O que poderia fazer? Insistir em ser uma companhia vazia, que você nunca fez nenhum esforço pra manter? Eu poderia ter ficado por perto, bem perto e aguentado até às vezes que fosse insuportável ficar. Mas eu precisava saber que você queria, nem que você falasse mesmo baixinho: fica."

- Dona Geo

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

E cada vez que eu fujo


Quando as lembranças ficam de um amor que já se foi.

Fotos, letras, presentes... tudo seu, tudo escondido e esquecido no fundo da gaveta, tudo falava de um amor perdido e de um romance desfeito, guardando lembranças, recordações e sensações de tudo que amei (E faço das lembranças um lugar seguro).  De tudo o que desejei e que por pouco tempo vivi. (E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais).
Você partiu, deixando um rastro de lágrimas e solidão. (Não cabe mais sermos somente amigos) 
Eu fiquei, esperando você voltar, você ligar, você me amar. (Eu e você Não é assim tão complicado)
Nada disso aconteceu... amarguei dias tristes e noites longas. (Que a estrada sem você É mais segura)
Você não voltou! (E é por isso que atravesso o teu futuro)
E hoje, depois de tanto tempo, depois de quase não pensar em você, encontro resquícios de nosso passado, misturando-se com o vazio do meu presente, e percebo, que mesmo depois de tanto tempo, de tantas lágrimas e de tantos xingamentos, percebo... que ainda não te esqueci. (E quando finjo que esqueço. Eu não esqueci nada)
De nada valeu a solidão. (Entre nós dois Não cabe mais nenhum segredo)
De nada valeu as madrugadas solitárias. 
De nada valeu as lágrimas que derramei. (Se eu tento esconder meias verdades)
De nada valeu o tempo. (Nem revirar um sentimento revirado)
Continuo esperando o amor acontecer. (Quem de nós dois
Vai dizer que é impossível O amor acontecer?)
Continuo te esperando... em vão. (A frase fica pelo avesso)
Continuo esperando você entrar por aquela porta, com o mesmo sorriso descarado nos lábios (Teu sorriso é só disfarce), os olhos verdes brilhando de paixão (Leio o teu olhar) e uma verdade inventada na boca (Que eu já não tô nem aí pra essa conversa). Eu juro, correria para os teus braços (E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais), te abraçaria forte e jamais te deixaria partir. Nunca mais. (Eu sei você vai rir da minha cara).
Todavia, nada disso vai acontecer. Você escolheu viver outra vida, com outro alguém, outro amor, uma nova paixão. (Que a história de nós dois não me interessa)
Guardei todas as recordações, as fotos, as cartas, os presentes... tudo escondido novamente no fundo da gaveta. (Sinto dizer que amo mesmo).
E sabe o que restou? (Pra não dizer de novo e sempre a mesma coisa. Falar só por falar)
Restou apenas a dor de tentar outra vez te esquecer. (Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado

Mas toda vez que eu procuro uma saída

Acabo entrando sem querer na tua vida)


Rosi Rosa




N/A: Trechos da música Quem de nós dois de Ana Carolina inserido no texto entre parênteses.  

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Foi um adeus


Ele, solidão, desespero, amor. 
Ela, decisão, confusão e também solidão.
Ele, lágrimas. 
Ela, adeus.

Silêncio.
Ele a olhava fixamente num misto de excitação, desejo e um quase desespero.
O que ela queria?
Mais silêncio.
Ela o fitava em desafio, o queixo erguido, os olhos flamejantes.
Decidida. Decisiva.
Mais e mais silêncio.
— Cansei de lutar por nós. – Sua voz soou alta, preenchendo o longo e tenso silêncio.
Ele balançou a cabeça, fechou os olhos por alguns instantes, suspirou pesadamente, naquele momento, sentia-se tão perdido e sozinho.
Sentia-se... imperfeito.
Incompleto.
O que ela estava dizendo? Como assim, cansou de lutar? Ele admitia a contragosto que ficou um tempo distante e frio, amando-a em silêncio, deixando o relacionamento dos dois esfriar um pouco.
Mas... Ele a amava. Amava! E ela não o amava mais?
— Eu... – Parou, engolindo em seco o gosto amargo da rejeição na boca, ele queria beijá-la profundamente, esmagar os lábios macios num beijo feroz capaz de fazê-la esquecer essa loucura de separação. De fazê-la se entregar novamente ao seu amor. De fazê-la sentir sua real paixão.
— Eu amei você. Amei! – A voz dela era apenas um sussurro... quase sofrido.
Amei? Amei?
O coração dele bateu mais rápido. Ela já não o amava mais. Mágoa e dor inundou a sua alma cruelmente.
Abriu os olhos com lentidão, os olhos dele reluziam incredulidade, raiva e o maldito amor.
Maldito amor!
Traiçoeiro amor!
— E o que eu sinto por você? – Ele gritou as palavras com vulnerabilidade, segurando-a com força pelas mãos, querendo tocar o calor de sua pele, querendo que ela sentisse todo o seu amor. Fora apenas um toque rápido e rude, ela puxou os braços com brusquidão, evitando o seu toque, evitando o perigo de seu olhar magoado. Evitando o seu amor.
Ele soltou um leve palavrão, os lábios retorcidos, o corpo trêmulo. Preso num turbilhão de novas sensações e de novos medos. Ela não o amava mais. E ele a amava tanto. Tanto.
E o que eu sinto por você? Ela pensou nas palavras ditas num engasgo de emoção e puro orgulho masculino, levou as mãos pro céu em rendição e ira, ela só queria que tudo acabasse, que cada um seguisse em frente com sua vida, separados. Sem dramas. Porque ele não entendia? Ela queria a solidão. Ela queria... o que ela queria?
Ela queria mais...
Queria... ficar sozinha. Sentia-se tão perdida e frágil, numa mistura de amor e ódio.
Impaciente, ela soltou um gemido baixinho. Ele a olhou profundamente, as palavras perdidas naquela tensão de sentimentos confusos e de raiva não declarada.
Ah, como doía amar! Ah, como doía não ser amado!
— Só... – Sua voz se perdeu, uma lágrima molhou seus lábios levemente, numa sutileza sôfrega de determinação. — Acabou, entendeu? – O tom autoritário e irritado da voz dela o fez querer sacudi-la pelos ombros e beijá-la mais uma vez.
Só mais uma vez?
Um beijo apenas? O último? Seria suficiente?
Não! Todo o seu corpo tremeu de fúria, tristeza e frustração.
Negação.
— Não quero que você vá. – Ele suplicou num fio de voz. — Não quero que acabe. - Pegou sua mão e levou até seu peito, pressionando onde seu coração batia descompassadamente o seu amor. — Eu ainda te amo, você não sente?– Não sentia vergonha em implorar por seu amor, fitou seus lábios trêmulos, seus olhos rasos d'água, sua respiração pesada.  Fique. – Implorou. A voz profunda mostrava desespero e dor.
Ou apenas dor. Muita dor.
Ela aproximou mais seus corpos, seus rostos, suas bocas. Fazendo o coração dele se revirar de esperanças e incertezas.
Aquecendo-o. De amor.
Ela o beijou levemente. Lábios nos lábios. Ele segurou os quadris dela com sutil excitação, beijando-a com pura delicadeza, passando a língua em todo o contorno de seus doces lábios com desejo, sentindo o seu gosto uma vez mais.
Seria a última vez?
Ela interrompeu o beijo, afastando-se rapidamente. Tocou com a ponta dos dedos os lábios inchados pelo beijo trocado, sem nada sentir.
Nem compaixão. Nem amor. Nem dor. Nem desejo.
Nada.
Os olhos estavam enevoados de tristeza e... a certeza implacável do adeus que seria dito.
Ofegante, ele apenas perguntou, incerto, infeliz com o distanciamento dela, com a indiferença em seu olhos azuis:
— O que foi isso? – A voz saiu cortante num esforço pra conter o grito e as lágrimas.
Dizem que homens não choram, mas tudo o que ele queria naquele momento era chorar, apagar com as lágrimas toda aquela dor e todo aquele sofrimento.
Estava sofrendo a dor da despedida da mulher da sua vida.
Sentia-se destruído.
E imperfeito.
Ela o olhou confiante. Perversamente decidida.
— Foi um adeus. – Cada palavra soou com crueldade e arrogância.
Esfriando-o. De dor.
Ele assentiu, o peito subindo num misto de despedida e mais desespero.
Depois do beijo, da leve carícia dos lábios, do coração com coração, ele imaginou que não seria o fim desse amor. Mas se enganou totalmente. Tolamente.
Ela não o amava mais.
Aceitou o adeus. O último beijo. O último aceno. A explicação vazia.
Aceitou tudo num silêncio resignado.
Não sorriu. Nada falou. Apenas ficou parado no mesmo lugar. Sentindo o seu coração se partir em mil pedaços e o seu mundo ruir num caos doloroso.
Sozinho. Sem ela. Sem o seu amor.
Eu amei você.
E agora, não mais.
Ela foi embora sem olhar pra trás. Sem enxergar o seu amor. Sem ver a sua dor. Sem ouvir seu coração clamando por ela.
Adeus, ela dissera e depois, restou apenas o silêncio.
E mágoa. E desilusão. E dor. A dor da despedida.
E restou o seu amor... por ela.
— Foi um adeus.
Adeus.
Ninguém nunca sabe quando aquele 'até logo' poderá ser, na verdade, um adeus.
(Augusto Branco)
E pela primeira vez, ele chorou. Um pranto doído. Silencioso. Lágrimas deslizavam por seu rosto numa profusão de angustia, dor e amor.
Mais angustia.
Mais dor.
Mais amor.
Lembrou do beijo. O último beijo. E quis gritar.
'Não vá. Volte e aprenda a me amar.'
Entretanto, ela já havia partido, deixando-o numa solidão inquieta, num desespero sem fim.
Despedaçado.
Sua história de amor... acabada. Sem um final feliz.
'Só me ame de volta, eu te imploro.'
No sussurro do silêncio sua voz se perdeu ao vento, e ele ouvia apenas a voz melodiosa dela dizendo o seu adeus.
É triste partir.
É triste ficar.
— Foi um adeus.



- Rosi Rosa. 

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Ou toca, ou não toca




Não me prendo a nada que me defina.
Sou companhia, mas posso ser solidão,
tranquilidade e inconstância, pedra e coração.
Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo,
preguiça e sono.
Música alta e silêncio.
Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser.
Não me limito, não sou cruel comigo.
Serei sempre apego pelo que vale a pena
e desapego pelo que não quer valer.

Clarice Lispector.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Não chore.



Ela chorando o fim de seu antigo amor. Amor?
Ele sorrindo o começo do seu novo amor. Amor!
Amor à primeira vista?




Discretamente, ela enxugou uma lágrima que escorria por seu belo rosto, tentou sorrir. 

Não conseguiu.

Ele se foi! 

Rompendo laços e desfazendo o amor. 

Ele se foi! 

Pra sempre?

Sempre!

Em outra mesa, alguém a olhava atentamente. 

Novas lágrimas saltaram de seus olhos. Remexeu na cadeira, olhou ao redor com inquietação. Chorando de tristeza e raiva. 

Ele desviou o olhar, e sentiu o desespero e a fragilidade dela. O coração doendo por vê-la sofrer. 
Chorar. 

Eram apenas dois estranhos que se viam de longe, um encontro inconstante, num restaurante impessoal, quase vazio. 
Normal.

Todos os dias ela se sentava na mesma mesa. Sozinha. 

E ele na mesa ao lado. Também sozinho. 

Trocavam olhares. Trocavam sorrisos. Nada mais. Nenhuma palavra. Não precisavam. Tudo era dito naquele silêncio. Naquela troca de olhares. Naquela confusão de sorrisos e timidez. 

Hoje ela chorava. Porque? Ele se perguntava. 

Algum amor perdido? Um coração partido? 

Qual seria o motivo daquelas lágrimas? 

E havia tanta dor naquelas lágrimas!

Ele viu uma gota molhar os seus lábios trêmulos. Ofegando forte, ela fechou os olhos por alguns segundos, os ombros caídos, o rosto contorcido com uma dor palpável. 

Será que essa dor não vai passar? Ela pensava em desespero, a garganta apertada e o coração acelerado. 

Mais um amor errado. Mais um amor desfeito. Mais uma vez sozinha. 

Uma nova solidão. Várias lembranças. Um novo vazio. 

Frágil demais, abriu os olhos devagar com seus pensamentos descontrolados, respirando rapidamente, aquele homem a fitava com uma expressão preocupada e ansiosa. O mesmo homem que ela via todos os dias. Ele abaixou a cabeça e o olhar. Ela também. 

Suspirou profundamente, ruidosamente, dolorosamente. 

Porque ela tinha que amar errado? 

Escolher errado? 

Porque tinha que amar, afinal? 

Ela tivera o seu amor destruído, despedaçado. Arrancado de suas mãos. 

Emoções estranhas e confusas nublavam sua mente e o seu coração.

E ela sentia raiva. E dor! 

Muita dor!

Sentia o coração partido em pequenos pedaços. 




Voltou a olhar para o estranho com incerteza e ressentimento. Ele estava distraído, preocupado, sozinho. Talvez ele pensasse que ela fosse uma louca apaixonada, sofrendo à toa. 

E daí? Dane-se! Pensou zangada. 

Dane-se! Quis gritar. 

Era uma louca apaixonada. E o sofrimento não era à toa. 

Era?

Novas lágrimas caíram. Novas dores. Novas mágoas. 

Sentia-se abandonada. Inquieta. Magoada.
Uma tola apaixonada!

Parecia sentir todas as dores do mundo. 

Que dor era? 

Todas!

O amor só trouxe engano. E dor!

Muita dor!

E um mundo repleto de sentimentos e fragilidades.

Soluçou alto, xingando baixinho sua incapacidade de ser amada. 
Ela pensou que era correspondida em seu amor. 
Doce engano. 
Triste ilusão. 
O amor, não foi feito pra ela. 
O que lhe restava era desistir. 
Desistir... 
De amar... De esperar... De se apaixonar. 
Ou não. 
Um novo pranto rasgou-lhe o coração sensível. Molhando sua fraca decisão de se fechar definitivamente para o amor. 

Ele virou a cabeça bruscamente em sua direção, ela desviou o olhar. Ele continuou analisando cada lágrima, vendo cada sentimento, desnudando sua alma inteira, enxergando sua dor e seu desespero naqueles olhos úmidos e perfeitos. Ela suspirou ruidosamente, de novo. 

Será que não podia nem mesmo sofrer em paz? 
Que indelicadeza da parte desse estranho a fitar assim num momento solitário de mágoas e angustia. 
Indelicado!

Olhou novamente pra ele, disfarçadamente, sentindo uma perigosa mistura de raiva e ternura. 

Seria tão fácil amar aquele estranho de sorriso doce e olhar gentil. 

Porque ela tinha que amar errado? 

Escolher errado? 

Pensou no motivo de suas lágrimas. No adeus não dado. No beijo esquecido. Na despedida sem muitas palavras. 

Aquele que deveria lhe amar uma vida inteira, acabou o romance dos dois. Disse que se apaixonou por outra pessoa. Como assim? E ela? E o amor que ele dizia sentir, por ela? Acabou? De repente? 

Assim, tão rápido?
Canalha!

O adeus fora apenas um momento fugaz. E ele desapareceu facilmente de sua vida. E num piscar de olhos ela abraçava a solidão e o sentimento vão. 

Ela queria gritar sua estupidez. 

Com um rápido olhar. Observando-a, ele sentiu seu coração saltar no peito, respirou fundo e levantou, em poucos passos estava ao lado dela, em um único movimento estendeu um fino lenço de seda. Ela apenas o olhou, umedecendo os lábios com a ponta da língua, os olhos rasos d'água, o coração oco por dentro. Aceitou o pequeno lenço e secou as lágrimas em silêncio, desajeitadamente, fungando e tentando engolir todo seu sofrimento. 

Ele inclinou a cabeça, respirando próximo de sua orelha, uma carícia quase indecente para dois estranhos. 

— Não chore. — A voz rouca dele a fez se arrepiar. Aquele sotaque diferente dando vislumbres de um futuro sem dor. Suspirou, aquela voz lhe dava um doce esquecimento. 

Esquecer, era preciso esquecer. 
O amor, a dor, as lágrimas. 
Esquecer... o homem que pensou amar. 
Esquecer... o amor que pensou sentir.

Ergueu a cabeça e encontrou seu olhar penetrante preso nela. Sorriu fragilmente. Aquele estranho sentou-se ao seu lado, tocou sua mão delicadamente, sempre sorrindo pra ela. Não disse mais nada. Apenas ficou ali, ao seu lado, cuidando de sua dor, secando as suas lágrimas...

Esquecimento... Doce e amargo esquecimento!

Ele deixou que o silêncio falasse por si, tocou suavemente a mão dela, sem palavras, apenas um toque inocente e quente, quase possessivo, queria que ela soubesse que não estava sozinha em sua dor desconhecida, queria aninhar seu pequeno corpo junto ao seu e protegê-la de tudo e de todos, queria tantas coisas... 

— Não chore. — Ele forçou um sorriso e repetiu novamente as palavras, vendo novas lágrimas inundar aqueles olhos incrivelmente verdes, aquilo partiu o seu coração. Qual seria o peso de sua dor? Não importava, ele estava disposto a dividir ou carregar tudo em seus ombros poderosos. 

Por amor?

Não queria dar nome ao sentimento, mas no fundo já sabia. Havia se apaixonado perdidamente por aquela mulher que nem mesmo sabia o nome. 

Amor à primeira vista. — Aquele sentimento surgiu em sua mente como um clichê. Tão verdadeiro. 

Devia tê-la amado desde o primeiro momento em que a viu entrar naquele restaurante há algumas semanas atrás. 

Amor. À primeira vista. 

Quase sorriu com esse pensamento, com essa verdade, com essa nova emoção brincando em seu peito. Palpitando fortemente em seu coração. 







'Só quem já viveu de olhares sabe que amor à primeira vista existe'.


- Diego Santos



Ela virou-se pra ele e sorriu timidamente, mais uma vez sem palavras, mais uma vez em silêncio. Viu seus olhos claros e ternos, notou seus lábios desejosos, e uma súplica silenciosa no bater acelerado de seu coração, parecia gritar algo, parecia implorar por algo.

Amor!

Amor?

'Deixe-me te amar.' O coração dele parecia soar essas palavras numa promessa muda e insistente. Ele era um estranho que doou seu tempo e carinho num momento de solidão e dor. 

O que dizer? O que fazer?

Ela esfregou a mão nos olhos. Segurou as lágrimas traiçoeiras. Mordiscou os lábios com força. Cerrou as pálpebras e a testa tentando se acalmar. 

— Juro que não vou mais chorar. — Ela sussurrou emocionada, um sentimento novo florescendo no coração. Um sorriso desenhando sua boca. Um brilho diferente no olhar. A esperança refletida nos olhos cor de esmeralda. 

Esperança de amar certo dessa vez. 
Amar certo!

Observou-o em silêncio por longos segundos e com uma intensidade perigosamente atraente, logo, estendeu a mão num cumprimento conhecido, ele aceitou com um aperto forte e sedutor, fazendo-a sobressaltar e estremecer com o toque gentil e quente em sua mão fria. E mais. Sentiu admiração e compaixão. Sentiu desejo e atração. 

E mais. 

Sentiu amor.

Amor!

Amor?

— Chloe. — Timidamente, disse seu nome baixinho. 

— Romeo. — Ele se apresentou, pronunciando seu nome rapidamente, a voz era firme, um sotaque diferente, atraente, sedutor. 

Ambos sorriram. Ambos sentiram como se começassem a viver naquele momento. 

Uma nova vida, pra ambos! 








'Foi muito lindo te ver pela primeira vez e pensar sem palavras: Eu quero.'






- Caio Fernando Abreu







Não chore, foi o que ele disse. Não chore. E daquele dia em diante, ela não deixou nem uma lágrima a mais cair de seus olhos. Ao lado dele, ela conheceu o verdadeiro amor. O amor sincero. O sentimento delicado. Um futuro certo,  trilhando o mesmo caminho, juntos. Um estranho que lhe ensinou a amar, sem pressa, sem aperto, sem dor, sem nó. 

E sem lágrimas e sofrimento. 

Apenas, amor!




"O amor é isso. Não prende, não aperta, não sufoca. Porque quando vira nó, já deixou de ser laço." 

(Mário Quintana)







*Fim. 







— Rosi Rosa. 


P.S. Música do texto: Juro que não vou mais chorar de José Augusto.