segunda-feira, 31 de agosto de 2015

E cada vez que eu fujo


Quando as lembranças ficam de um amor que já se foi.

Fotos, letras, presentes... tudo seu, tudo escondido e esquecido no fundo da gaveta, tudo falava de um amor perdido e de um romance desfeito, guardando lembranças, recordações e sensações de tudo que amei (E faço das lembranças um lugar seguro).  De tudo o que desejei e que por pouco tempo vivi. (E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais).
Você partiu, deixando um rastro de lágrimas e solidão. (Não cabe mais sermos somente amigos) 
Eu fiquei, esperando você voltar, você ligar, você me amar. (Eu e você Não é assim tão complicado)
Nada disso aconteceu... amarguei dias tristes e noites longas. (Que a estrada sem você É mais segura)
Você não voltou! (E é por isso que atravesso o teu futuro)
E hoje, depois de tanto tempo, depois de quase não pensar em você, encontro resquícios de nosso passado, misturando-se com o vazio do meu presente, e percebo, que mesmo depois de tanto tempo, de tantas lágrimas e de tantos xingamentos, percebo... que ainda não te esqueci. (E quando finjo que esqueço. Eu não esqueci nada)
De nada valeu a solidão. (Entre nós dois Não cabe mais nenhum segredo)
De nada valeu as madrugadas solitárias. 
De nada valeu as lágrimas que derramei. (Se eu tento esconder meias verdades)
De nada valeu o tempo. (Nem revirar um sentimento revirado)
Continuo esperando o amor acontecer. (Quem de nós dois
Vai dizer que é impossível O amor acontecer?)
Continuo te esperando... em vão. (A frase fica pelo avesso)
Continuo esperando você entrar por aquela porta, com o mesmo sorriso descarado nos lábios (Teu sorriso é só disfarce), os olhos verdes brilhando de paixão (Leio o teu olhar) e uma verdade inventada na boca (Que eu já não tô nem aí pra essa conversa). Eu juro, correria para os teus braços (E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais), te abraçaria forte e jamais te deixaria partir. Nunca mais. (Eu sei você vai rir da minha cara).
Todavia, nada disso vai acontecer. Você escolheu viver outra vida, com outro alguém, outro amor, uma nova paixão. (Que a história de nós dois não me interessa)
Guardei todas as recordações, as fotos, as cartas, os presentes... tudo escondido novamente no fundo da gaveta. (Sinto dizer que amo mesmo).
E sabe o que restou? (Pra não dizer de novo e sempre a mesma coisa. Falar só por falar)
Restou apenas a dor de tentar outra vez te esquecer. (Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado

Mas toda vez que eu procuro uma saída

Acabo entrando sem querer na tua vida)


Rosi Rosa




N/A: Trechos da música Quem de nós dois de Ana Carolina inserido no texto entre parênteses.  

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Foi um adeus


Ele, solidão, desespero, amor. 
Ela, decisão, confusão e também solidão.
Ele, lágrimas. 
Ela, adeus.

Silêncio.
Ele a olhava fixamente num misto de excitação, desejo e um quase desespero.
O que ela queria?
Mais silêncio.
Ela o fitava em desafio, o queixo erguido, os olhos flamejantes.
Decidida. Decisiva.
Mais e mais silêncio.
— Cansei de lutar por nós. – Sua voz soou alta, preenchendo o longo e tenso silêncio.
Ele balançou a cabeça, fechou os olhos por alguns instantes, suspirou pesadamente, naquele momento, sentia-se tão perdido e sozinho.
Sentia-se... imperfeito.
Incompleto.
O que ela estava dizendo? Como assim, cansou de lutar? Ele admitia a contragosto que ficou um tempo distante e frio, amando-a em silêncio, deixando o relacionamento dos dois esfriar um pouco.
Mas... Ele a amava. Amava! E ela não o amava mais?
— Eu... – Parou, engolindo em seco o gosto amargo da rejeição na boca, ele queria beijá-la profundamente, esmagar os lábios macios num beijo feroz capaz de fazê-la esquecer essa loucura de separação. De fazê-la se entregar novamente ao seu amor. De fazê-la sentir sua real paixão.
— Eu amei você. Amei! – A voz dela era apenas um sussurro... quase sofrido.
Amei? Amei?
O coração dele bateu mais rápido. Ela já não o amava mais. Mágoa e dor inundou a sua alma cruelmente.
Abriu os olhos com lentidão, os olhos dele reluziam incredulidade, raiva e o maldito amor.
Maldito amor!
Traiçoeiro amor!
— E o que eu sinto por você? – Ele gritou as palavras com vulnerabilidade, segurando-a com força pelas mãos, querendo tocar o calor de sua pele, querendo que ela sentisse todo o seu amor. Fora apenas um toque rápido e rude, ela puxou os braços com brusquidão, evitando o seu toque, evitando o perigo de seu olhar magoado. Evitando o seu amor.
Ele soltou um leve palavrão, os lábios retorcidos, o corpo trêmulo. Preso num turbilhão de novas sensações e de novos medos. Ela não o amava mais. E ele a amava tanto. Tanto.
E o que eu sinto por você? Ela pensou nas palavras ditas num engasgo de emoção e puro orgulho masculino, levou as mãos pro céu em rendição e ira, ela só queria que tudo acabasse, que cada um seguisse em frente com sua vida, separados. Sem dramas. Porque ele não entendia? Ela queria a solidão. Ela queria... o que ela queria?
Ela queria mais...
Queria... ficar sozinha. Sentia-se tão perdida e frágil, numa mistura de amor e ódio.
Impaciente, ela soltou um gemido baixinho. Ele a olhou profundamente, as palavras perdidas naquela tensão de sentimentos confusos e de raiva não declarada.
Ah, como doía amar! Ah, como doía não ser amado!
— Só... – Sua voz se perdeu, uma lágrima molhou seus lábios levemente, numa sutileza sôfrega de determinação. — Acabou, entendeu? – O tom autoritário e irritado da voz dela o fez querer sacudi-la pelos ombros e beijá-la mais uma vez.
Só mais uma vez?
Um beijo apenas? O último? Seria suficiente?
Não! Todo o seu corpo tremeu de fúria, tristeza e frustração.
Negação.
— Não quero que você vá. – Ele suplicou num fio de voz. — Não quero que acabe. - Pegou sua mão e levou até seu peito, pressionando onde seu coração batia descompassadamente o seu amor. — Eu ainda te amo, você não sente?– Não sentia vergonha em implorar por seu amor, fitou seus lábios trêmulos, seus olhos rasos d'água, sua respiração pesada.  Fique. – Implorou. A voz profunda mostrava desespero e dor.
Ou apenas dor. Muita dor.
Ela aproximou mais seus corpos, seus rostos, suas bocas. Fazendo o coração dele se revirar de esperanças e incertezas.
Aquecendo-o. De amor.
Ela o beijou levemente. Lábios nos lábios. Ele segurou os quadris dela com sutil excitação, beijando-a com pura delicadeza, passando a língua em todo o contorno de seus doces lábios com desejo, sentindo o seu gosto uma vez mais.
Seria a última vez?
Ela interrompeu o beijo, afastando-se rapidamente. Tocou com a ponta dos dedos os lábios inchados pelo beijo trocado, sem nada sentir.
Nem compaixão. Nem amor. Nem dor. Nem desejo.
Nada.
Os olhos estavam enevoados de tristeza e... a certeza implacável do adeus que seria dito.
Ofegante, ele apenas perguntou, incerto, infeliz com o distanciamento dela, com a indiferença em seu olhos azuis:
— O que foi isso? – A voz saiu cortante num esforço pra conter o grito e as lágrimas.
Dizem que homens não choram, mas tudo o que ele queria naquele momento era chorar, apagar com as lágrimas toda aquela dor e todo aquele sofrimento.
Estava sofrendo a dor da despedida da mulher da sua vida.
Sentia-se destruído.
E imperfeito.
Ela o olhou confiante. Perversamente decidida.
— Foi um adeus. – Cada palavra soou com crueldade e arrogância.
Esfriando-o. De dor.
Ele assentiu, o peito subindo num misto de despedida e mais desespero.
Depois do beijo, da leve carícia dos lábios, do coração com coração, ele imaginou que não seria o fim desse amor. Mas se enganou totalmente. Tolamente.
Ela não o amava mais.
Aceitou o adeus. O último beijo. O último aceno. A explicação vazia.
Aceitou tudo num silêncio resignado.
Não sorriu. Nada falou. Apenas ficou parado no mesmo lugar. Sentindo o seu coração se partir em mil pedaços e o seu mundo ruir num caos doloroso.
Sozinho. Sem ela. Sem o seu amor.
Eu amei você.
E agora, não mais.
Ela foi embora sem olhar pra trás. Sem enxergar o seu amor. Sem ver a sua dor. Sem ouvir seu coração clamando por ela.
Adeus, ela dissera e depois, restou apenas o silêncio.
E mágoa. E desilusão. E dor. A dor da despedida.
E restou o seu amor... por ela.
— Foi um adeus.
Adeus.
Ninguém nunca sabe quando aquele 'até logo' poderá ser, na verdade, um adeus.
(Augusto Branco)
E pela primeira vez, ele chorou. Um pranto doído. Silencioso. Lágrimas deslizavam por seu rosto numa profusão de angustia, dor e amor.
Mais angustia.
Mais dor.
Mais amor.
Lembrou do beijo. O último beijo. E quis gritar.
'Não vá. Volte e aprenda a me amar.'
Entretanto, ela já havia partido, deixando-o numa solidão inquieta, num desespero sem fim.
Despedaçado.
Sua história de amor... acabada. Sem um final feliz.
'Só me ame de volta, eu te imploro.'
No sussurro do silêncio sua voz se perdeu ao vento, e ele ouvia apenas a voz melodiosa dela dizendo o seu adeus.
É triste partir.
É triste ficar.
— Foi um adeus.



- Rosi Rosa.