quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Estive muito perto de te esquecer



Pego o telefone e uma maçã. Talvez morder alguma fruta no meio do diálogo dê a impressão de que te ligar é um acontecimento casual, que estou nem aí na verdade, só estou fazendo hora porque a água do meu banho ainda não esquentou, e eu estava sem nada pra fazer de toda forma. “E aí, como vão as coisas?”, ensaio. Abocanho a maçã, mas não digito seus números. Quando crio coragem, o buraco na fruta exibe a carne ressecando e escurecendo de oxidação. Ligo, chama-chama e não atende. Me sinto enjoado. A secretária eletrônica me encaminha até a caixa postal. Deixo recado: juro, dessa vez estive muito perto de te esquecer.

— Gabito Nunes

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Diga



Sara termina o relacionamento com Grissom, ele resolve viajar para esquecê-la, mas algo acontece, será que Sara chegará a tempo para pedir perdão?

Fic inspirada na música Diga (Versão Brasileira de "Dime") cantada pelo lindo Jaime Camil


Songfic com uma pitada de Drama.
Shipper: GSR




Ainda amanhecia, ele caminhava lentamente pela praia, os pensamentos longe, a água molhava seus pés, o barulho das ondas não conseguiam acalmar o seu coração, ele estava perdido, ele estava sem ela...

Olhou a imensidão daquele mar tão vasto e chorou, ele tinha pedido uns dias no LAB, queria viajar, espairecer, esquecer... mas naquele momento sozinho, tudo o que ele queria era voltar, ir atrás dela, de nada adiantaria estar longe de Vegas, longe dela, se a levou em seus pensamentos, em seu coração.

Apertou os olhos fortemente na ânsia de conter as lágrimas insistentes, suas lágrimas se misturavam as águas do mar, olhou o horizonte pensativo, com os olhos embaçados a viu nadando, piscou os olhos rapidamente e então a imagem se desfez, não adiantava fugir, ela estaria em todos os lugares, em todos os rostos, essa viagem seria para esquecê-la definitivamente, mas não estava conseguindo. Secou os olhos e continuou sua caminhada , sem rumo.

Sentou em uma pedra tentando mais uma vez se concentrar no barulho do mar, novamente fechou os olhos e franziu o cenho, era doloroso pensar com os olhos fechados e ver tão nitidamente sua Sara, estava morrendo sem ela. Pensou em tudo o que havia acontecido, na decisão dela de terminar o relacionamento deles, sem motivo, sem uma explicação, o deixando sem rumo, sem chão.





Tão estranho
Tão vazio
Como é pouco o mundo inteiro sem ti
Tão sozinho
Tão perdido
Tão sem rumo sem saber onde ir...






Grissom pensou no beijos, nos abraços e carinhos de Sara, como fazia falta tudo aquilo, por muito tempo negou esse amor, e agora que venceu seus medos e estava acostumado em ser amado, ela tirou tudo dele... Porque?


E vagam pela noite mil lembranças
Como estrelas renovando as esperanças
E perco todo medo
No veneno do desejo
Por ver ao acordar
Pra poder uma vez mais te amar...


Já não dormia, sempre passava em claro, relembrando as noites de amor com ela, o acordar ao lado dela, as vezes em que se perdia admirando ela atrapalhada na cozinha, tentando fazer panquecas para o café da manhã, ela ficava tão linda quando estava feliz.

Ela o havia mudado, ele estava mais feliz, descontraído, os turnos ficaram mais leves, e agora o que ele faria sem ela?


Diga o que fazer com a minha vida
Se só exite a medida
O teu corpo no meu
Só me diga
O que que eu fiz pra te perder
Se estou morrendo sem querer
E nem sei respirar
Se não posso te amar
Uma vez mais...


Olhou o céu de um azul perfeito, como seria delicioso se ela estivesse com ele ali naquele paraíso, com certeza eles fariam amor apaixonadamente e exaustivamente sobre as areias ao som do mar, ele suspirou profundamente ao lembrar das tórridas noites regadas em amor, o corpo de Sara era de encaixe perfeito ao seu, e ela o completava em todos os sentidos, e agora ele não conseguia nem respirar com a falta que ela fazia em sua vida.


E vagam pela noite mil lembranças
Como estrelas renovando as esperanças
E perco todo medo
No veneno do desejo
De te ver ao acordar
Pra poder uma vez mais te amar...


E o que mais lhe doía era que ela não lhe deu nem uma explicação plausível, terminou alegando apenas que ela atrapalhava a vida dele, como assim? Se foi por ela que ele aprendera a viver?

Estava se sentindo abandonado, e em um momento de quase loucura, um grito de dor ecoou pela praia, as ondas de súbito pareceu se acalmar diante ao sofrimento de seu espectador:

_Saraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Porque? Se eu te amo tanto!

Colocou as mãos no rosto, abafando mais um urro de dor, e chorou, desesperado, soluçando e sussurrando o nome dela. Levantou-se meio desnorteado e sentiu o mar lhe chamando, lhe convidando para um mergulho, caminhou em direção a água e mais uma vez a imagem dela se fez no mar, a luz do sol ofuscava suas vistas, e ele foi andando, sendo chamado por sua visão, a água já lhe cobria a cintura, a ponta de seus pés tocavam agora com certa dificuldade o fundo do mar, mas ela o estava chamando, não podia simplesmente desistir, sua Sara estava ali como uma sereia o encantando, a água já lhe cobria o pescoço e começou a nadar e nadar, Sara o chamava, mas por mais que nadasse, não conseguia chegar perto dela.

O mar que antes estava calmo, se tornou violento, ondas tentavam impedi-lo de continuar seu percurso, o cansaço estava lhe tirando as forças de seus braços, por um instante ele se deixou levar, aspirou o cheiro típico do mar e então sua Sara se desfez, consciente ele notava que se deixou levar por uma imagem de sua cabeça, sentiu-se irresponsável naquele momento, estava se preparando para retornar a margem, quando uma forte onda o lançou longe, começava ali sua luta pela vida!

Era como se o mar o quisesse ali, afundava e voltava, seus braços cansados lutavam para continuar nadando, quando estava quase conseguindo uma nova onda o afundava e o levava ao fundo, e ele voltava e prosseguia nadando, cuspindo a água que engolia, e nadava, ansiava por se salvar, mas o mar o queria, uma onda maior veio em sua direção e ele afundou sem conseguir lutar, em sua cabeça a imagem de Sara, os momentos ao lado dela, e se fosse melhor assim? A morte lhe tiraria toda a dor...


Diga o que fazer com a minha vida
Se só exite a medida
O teu corpo no meu
Só me diga
O que que eu fiz pra te perder
Se estou morrendo sem querer
E nem sei respirar
Se não posso te amar
Uma vez mais...


Sua Sara já não o queria, pra que continuar a viver? E nesses pensamentos tristes, ele parou de lutar e aceitou seu destino, a dor parou, o pensamento em Sara cessou, sentiu apenas uma mão lhe puxar nervosamente pela camisa encharcada, alguma alucinação, pensou, e aos poucos foi perdendo os sentidos, sem dor, sem vida, sem Sara...

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&

Ela já não sabia se tomara a decisão certa, foi precipitada sim, mas de alguma forma ela atrapalhava a vida dele, não queria que uma vida inteira dele dedicada ao trabalho se perdesse por causa de um romance proibido, e terminou seu namoro com o Grissom.

Só Deus sabe o quanto ela sofria com essa decisão, mas era melhor assim, pelo menos ela pensava ser o melhor, até vê-lo definhar aos poucos, ele já não sorria, trabalhava afinco, nunca descansava, ela se mostrava forte por fora, não queria render-se ao seu coração e correr para os braços do homem de sua vida, descaradamente o evitava, chorava escondido no banheiro sempre que o via, "é apenas uma forte gripe" dizia aos que questionavam seus olhos sempre vermelhos.

Em uma das muitas noites sem dormir, se deu conta que agiu erroneamente, e no dia seguinte teria uma conversa séria com ele, queria o perdão dele, queria voltar a ser feliz ao lado dele!

No começo de seu turno, entrou afobada no LAB, não quis perder tempo, queria conversar com ele o quanto antes, o sofrimento de ambos chegaria ao fim.




Foi com pesar que viu o escritório vazio, correu pelos corredores em busca dele, esbarrou em Catherine, e ela lhe deu a notícia de que Grissom havia viajado de férias, ali mesmo na frente da amiga chorou desolada, amparada por Cath, ela lhe contou tudo, e uma esperança surgiu em meio a tristeza, Cath sabia onde ele estava e prometeu ajudar o casal a se reconciliar.

Munida do local de onde Grissom estaria ela também viajou, nunca ansiou tanto para chegar ao seu destino, será que ele a perdoaria?

As lembranças povoavam sua mente, sempre amou Grissom e agora pensando melhor, se achou estupidamente patética por terminar com ele no auge de sua felicidade, sentia falta do corpo dele aquecendo o seu em noites frias, de seus beijos molhados ao acordar e de seus abraços reconfortantes ao final de cada turno difícil, sentia falta dele!

Enfim chegou, o local era lindo, uma praia maravilhosa, um paraíso, com coração aos pulos, foi direto ao endereço onde ele estaria, encontrou o local fechado, sem ninguém, mas não desanimou, o procuraria até achá-lo, começou sua andança pelas areias da praia, abriu os braços e exalou com força o cheiro do mar, se o encontrasse naquele momento, com certeza correria para os seus braços em silêncio e o beijaria tendo como testemunha a imensidão azul do mar.

Andou, andou, e nada do Grissom, mas não desistiria assim tão facilmente, mesmo cansada continuava, em um certo momento sentiu uma pontada aguda em seu coração, uma dor intensa, não soube identificar essa dor, talvez saudades dele, medo de não ser perdoada, o azul do céu lembrava os olhos de Grissom, chorou copiosamente a falta daqueles olhos azuis que tanto a fascinavam.

Estava calor, olhou pro mar, convidativo para um mergulho, e sentiu seu coração falhar várias batidas, o viu... seu Grissom se debatendo dentro do mar, se afogando, não pensou e pulou desesperada para salvá-lo, não o deixaria morrer, o salvaria ou morreria com ele.

Chegou no exato momento em que ele perdia a consciência, o puxou por sua camisa e nervosa agarrou a ele desesperada, o peso dele a levava junto ao fundo, mas ela não desistia e continuava a puxá-lo, exausta, conseguiu chegar até a areia.

_ Bate coração, bate coração! Ela dizia pra si mesma, na tentativa de reanimá-lo.

Ela fazia a massagem cardíaca seguida de respiração boca-a-boca, mas ele não reagia, seu corpo estava inerte, sem sinal de pulsação, ela chorava e recomeçava a massagem.

_ Não me deixe Grissom, por favor não me deixe! Bate coração, bate coração... Eu te amo! Grissommmmmmmmmmmmmm, volta pra mim!

Um grito, um nome, uma súplica... e com alegria ela o viu voltar para ela, ele expeliu a água do mar enquanto as poucos sua respiração voltava ao normal, ele estava recuperando seus movimentos respiratórios, suavemente.

Com a respiração oscilante e com os olhos ardendo a viu novamente, sua visão de Sara chorando e sorrindo ao mesmo tempo, com os cabelos molhados ela estava linda, a amava tanto que a via em todo os lugares, não soube ao certo como conseguiu se salvar do afogamento eminente, mas soube que Sara mesmo distante, o ajudou, seu amor por ela o salvou.


Só me diga...
Diga
Só me diga
Se só existe uma medida
O teu corpo no meu
Só me diga...


Fechou os olhos querendo dissipar aquela imagem que parecia tão real, com algum esforço tentou sentar na areia, e sua visão de Sara o ajudou, trêmula ela o trouxe para junto de si e o abraçou com força, e ele viu que sua visão era palpável, não era visão, sua Sara estava ali, ela o salvara de verdade, ela o chamou de volta... para ela!

Ele tocou carinhosamente seu rosto, as lágrimas presente em seus olhos, ela abriu a boca para falar, tinha tanta coisa para ser dita... com os dedos ele contornou os lábios dela, a silenciando, por alguns minutos admirou aquele rosto que amava tanto, pegou uma das mãos de Sara e a guiou até seu coração, que batia descompassado.
_ Você está sentindo querida? Ele bate por você, sempre! Obrigado por me salvar, obrigado por me trazer de volta a vida!!!

Sara chorava, era ela que deveria estar falando agora, lhe pedindo perdão, o amava tanto e se culpava por tudo aquilo ter acontecido, quase o perdeu, quase perdeu o amor de sua vida!

Um sussurro e um beijo desfez todo seus pensamentos, as ondas do mar como testemunha desse amor tão grande, os corações batendo em sincronia, ela não precisou lhe pedir perdão, o beijo urgente lhe confirmava que havia sido perdoada em silêncio.

Abraçados, contemplaram juntos o pôr do sol, entre juras de amor, caminharam pela praia, o cenário perfeito que se moldava ao amor de Gil e Sara, estavam juntos depois de quase se perderem um do outro, depois da quase morte de Grissom, estavam juntos novamente, uma nova chance foi dada a ambos de viver e retomar esse amor, e dessa vez seria pra sempre, nada e nem ninguém seria capaz de separá-los, nem mesmo a morte!



Fim*

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Tá tão difícil pra você também né?





Quantas vezes você me escreveu e não mandou,

Pegou o telefone e não ligou..

Partiu seu próprio coração.

[...]



— Lucas Lucco

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Olhos Secos, Coração Molhado


(...) Eu sei que em poucos dias, ele irá embora, e eu vou ficar aqui amargando uma saudade, mas porque ele é tão frio quando se trata de sentimentos? (...)





São Francisco, novembro, dia frio, triste, e porque não dizer solitário? Passeio pelo campus da universidade pensativa, avisto ele, ironicamente meu professor e amante, sentado em um banco com o olhar perdido, o que eu não daria para saber o que se passa em seus pensamentos, será que pensa em mim o tanto que eu penso nele?

A passos lentos, vou ao seu encontro, sento ao seu lado e minha mão roça em suas mãos frias, ele nada diz, apenas suspira e continua olhando para o nada.

Eu sei que em poucos dias, ele irá embora, e eu vou ficar aqui amargando uma saudade, mas porque ele é tão frio quando se trata de sentimentos? Nada diz, é um diálogo mudo entre o seu coração e o meu. O meu que tantas vezes grita um amor recente, mas verdadeiro!

Ouço um longo suspiro dele como se ouvisse meus pensamentos, e então enfim, ele quebra o silêncio, sua voz sai rouca, pausadamente:

_ Sara, eu sei que o que vivemos foi proibido, mas foi intenso... verdadeiro! Vou embora hoje a noite, antecipei minha volta à Las Vegas...

A cada palavra, uma punhalada em meu coração, ele iria embora, antes mesmo do dia previsto, sem dúvidas, ele fugia de mim e dos seus sentimentos. Tentei ser forte, tremia muito, e não era de frio, sabia que era um romance proibido, mas arrisquei e... me apaixonei.

Grissom continuava a falar, mas eu já não o ouvia, levantei sem olhar para ele, queria demonstrar uma força que eu não tinha naquele momento, com a voz trêmula, disse adeus e corri, queria estar longe dele, já que eu não iria vê-lo nunca mais, que a sua lembrança em minha mente fosse das horas em que passávamos nos amando.
Corri muito até me cansar, as lágrimas deixando rastros invisíveis pela grama da Universidade, distante de tudo e de todos, cai exausta de joelhos sobre o gramado e chorei, chorei um amor impossível, chorei a dureza de suas palavras, chorei a sua partida!

A vida tem sido dura comigo, uma infância infeliz, uma adolescência solitária, e agora uma juventude amarga! E tentarei de alguma forma esconder esse sofrimento.

As horas passaram sem que eu notasse, o gramado já se mostrava molhado pelo orvalho, devo ter adormecido em meio as lágrimas ali mesmo, levantei com certa dificuldade, o frio cortando a minha pele, ergui a cabeça e segui adiante, para meu dormitório e para uma vida regada a estudos, só isso que me restava agora, ser uma boa profissional, esquecer tudo o que vivi com o Grissom, me dedicar aos estudos e quem sabe um dia, ser feliz no amor!


“…faz de conta que ela não estava chorando por dentro ─ pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado”


* Clarice Lispector *

* Fim