segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Página de amigos




Ele quer amizade, depois de provar o amor ao lado dela. Encontrou outro alguém. Outro amor.
Ela o quer, apenas. Amor, e nada mais. Ele, e nada mais.


Ele ligou terminando
Tudo entre eu e ele
E disse que encontrou
Outra pessoa...
O telefone tocou insistentemente, inundando o silêncio persistente e calmo do meu quarto. Era ele.
— Alô? - Inseguro, ele falou num tom macio de voz. Sorri largamente de alegria. Como eu o amava.
— Alô. - Disse num longo suspiro apaixonado, desejando ele ali comigo para uma noite de prazer e excitação. Uma noite inteira de amor em seus braços, sentindo o seu cheiro. Sentindo o seu coração bater próximo ao meu com aquela paixão desenfreada que ele sentia toda vez que fazemos amor.
Silêncio. Algo estava errado. Eu sentia o meu coração fremir perigosamente de ansiedade e de expectativa.
— Eu quero terminar. - Ele disse assim, sem rodeios, sem meias palavras. Sem hesitações. Meu coração começou a bater num ritmo acelerado, ao mesmo tempo em que sentia os meus joelhos bambearem e o meu corpo se retesar de surpresa e medo. Eu realmente tinha ouvido aquilo? Ele realmente tinha dito aquilo?
Terminar?
— Amor... - Comecei a falar num sussurro inquietante. Ele me interrompeu com um riso insensível, quase cruel.
— Eu encontrei outra pessoa. Me apaixonei por outra pessoa. - Eu reprimi um grito ao ouvir aquela sentença dita com indiferença e egoismo. Outra pessoa? Outra paixão? Quem? E eu? E nós? E o nosso amor? E tudo o que vivemos? Acabou?
Terminar! Tudo?
Resmunguei uma resposta, um grunhido, não sei, eu não tinha mais voz, eu não tinha mais chão. Eu não teria mais ele ao meu lado? As lágrimas desciam lentamente por meus olhos, escorrendo por meu rosto, molhando meus lábios trêmulos, manchando o meu amor por ele.
— Eu... Eu não estou entendendo. - Gaguejei, a voz baixa, estremecida. — Você. Encontrou. Outro. Alguém? E. Eu? - Falei pausadamente, respirando fortemente, soluçando as palavras fracamente.
— Eu sei que você ainda me ama. Eu sei que te amei. Mas acabou. - Ele estava tão calmo, a voz num tom tão suave, enquanto o meu coração se revoltava dentro do meu peito agitado.
— Amou? Acabou? - As palavras deixavam a minha boca num tom incerto, inseguro, incompleto. Devagar e sofrido. Eu te amo, quis dizer alto. Eu te amo, quis gritar.
— Entenda, o meu amor por você acabou. - Poucas palavras. Nenhum sentimento. Muito sofrimento.

Ele jogou os meus sonhos
Todos pela janela
E me pediu pra entender
Encarar numa boa...
Um sorriso. Dele.
Novas lágrimas. Minhas.
— Talvez seja melhor você esquecer nossos beijos, nossos abraços, nossos momentos juntos. - A voz dele saiu sedutora e fatal. Cruel demais. Insensível demais.
Nossas lembranças. Nossos beijos. Nossos abraços. Todos os momentos ao lado dele... Esquecidos?
— Esquecer tudo? - Disse, mordaz, infeliz. Inclinei o corpo, com a ponta dos dedos toquei meu peito, o coração saltitava desesperado, passei a língua ao longo dos meus lábios cerrados, lambendo o sal de minhas lágrimas. Sentindo um vazio, uma dor. Sentindo tanta tristeza e amargura.
Um novo silêncio preencheu aquele momento de angústia. Um estranho silêncio.
— Esquecer tudo? - Repeti num murmúrio, minha voz soou fraca e cheia de medo, forçando um sorriso frio e melancólico nos lábios estremecidos.
— Sim. - Ele disse com uma firmeza exagerada. Uma resposta curta, direta, dolorosa. E pra machucar ainda mais meu coração, ele brincou comigo... — "Por favor entenda o seu nome vai ficar na minha agenda na página de amigos".– Ele disse isso em poucas palavras. Tão lentamente. Tão certo. Tão distante. Indiferente à tudo o que vivemos juntos. Indiferente ao sofrimento que me causava com aquele rompimento repentino.
Ele havia se apaixonado por outra? Como? Quando? E ele queria ser meu amigo depois de tudo o que vivemos juntos? De todo o amor que sentimos?
— Como é que eu posso ser amiga de alguém que eu tanto amei? – Abruptamente gritei, desesperada, perdida, rejeitada. Rindo nervosa. Ouvindo os compassos frenéticos de meu próprio coração se quebrar em vários pedaços.
O que fazer? Implorar? Mas amor não se implora. Não se pede. Ou ama ou não ama. Será que eu amei sozinha todo esse tempo?
Silencioso, eu ouvia apenas o ressoar forte de sua respiração compassada. Será que ele não se sentia culpado por destruir os meus sonhos e planos com ele?
Encostei na porta e fui deslizando vagarosamente até o chão frio, esperando ele falar alguma coisa, qualquer coisa. Eu estava confusa e vulnerável. Eu estava despedaçada.
Ele não disse nenhuma palavra. Nada.
— Certo. - Disse relutante, aceitando o fim. Aceitando que não teria mais seus beijos. Aceitando que não teria mais seus toques. Aceitando que o perdi... pra outra. Outra.
Do outro lado da linha, a risada dele foi inesperada e rude.
Eu aproximei meus lábios ainda mais do telefone e declarei num sussurro, suplicando.
— Você disse que seria pra sempre. Que nós seriamos pra sempre. Que... - Ele me interrompeu com agressividade e raiva.
— Ninguém pode prometer que algo será para sempre. Nada é pra sempre. - Ele retrucou com voracidade, as palavras sendo cuspidas com sarcasmo. E desligou. Me deixou. Sozinha. A solidão insuportável querendo me abraçar a força, a casa vazia, o coração vazio, a vida vazia. Meus olhos brilhavam com lágrimas derramadas. Meu corpo inteiro estremecendo de sofrimento e mágoas.
Ele deixou sua marca de diferentes maneiras em minha vida, em meu corpo, em minha alma. E agora?
Sem amor. Sem paixão. Cruelmente rejeitada. E eu apenas queria amá-lo, pela última vez. Última vez?


Não sei o que eu vou fazer
Pra continuar a minha vida assim
Se o amor que morreu dentro dele
Ainda vive em mim...
Amigos? Seremos amigos? Soltei o telefone que caiu no chão ruidosamente e abracei o meu corpo com força bruta.
Como é que eu posso ser amiga de alguém que eu tanto amei?
Perdida em pensamentos, sentimentos e sensações, chorei a noite toda, esperando ele entrar por aquela porta, sorrindo daquele jeito debochado e sexy, dizendo que tudo fora uma brincadeira. Uma terrível brincadeira.
Não foi. Ele não voltou. E eu tive que enfrentar os dias de solidão com a cabeça erguida e o coração partido.
E hoje, depois de alguns meses, ainda sofro com o silêncio e a tristeza de mais um dia sem ele.
Ele ligou. Não atendi. Como ele quer ser meu amigo, se o amor que morreu dentro dele ainda vive em mim?

—  Rosi Rosa




N/A: Texto inspirado na música Página de amigos (Alexandre/Rick).
 Vídeo aqui