sexta-feira, 29 de maio de 2015

Tentativas





Ela o fitou com olhos distantes, ouvindo a poesia que ele recitava com amor, pra ela.

Jurava amor eterno. Prometia paixão sem fim.

Ele sorriu e ela forçou um sorriso, indiferente.

Ele continuava lendo os versos em voz alta e rouca. Numa paixão declarada. Intensa.

Uma lembrança de outro alguém inundou sua mente e o seu coração.

Outro rosto. Outro sorriso. Outra voz.

Outro amor.

Tentou não chorar. 

E chorou. Dolorosamente.

Recordações felizes bailavam em sua cabeça naquele instante. Fechou os olhos, perdida naquele emaranhado de sensações, sofrimento e saudade.

Lembrou...

Do primeiro encontro. Do primeiro beijo. Da primeira vez entrelaçada com jeito e prazer no corpo dele. Na cama dele. Na certeza da paixão vivida.

Olhou seu novo amor. A poesia tão linda. Ele estava feliz. E ela tão triste. Lembrando de outro.

Fixou seu olhar nele, numa tentativa frustrada de enxergar outro alguém naquele rosto, abraçou-o fortemente, tentando encontrar naquele abraço outro calor. Tentando ouvir as batidas de outro coração.

Não encontrou nem um resquício dele. Nenhum traço daquele grande amor.

Que terminou.

Mas e aquela poesia?

Eram coisas que ele dizia.

Cada palavra. Cada verso. Cada sentimento.

Ela sorriu com essa lembrança.

Ele dizia bem devagar. Olhando pra ela. Sorrindo pra ela.

Lágrimas caíram de seus olhos, molhando seu rosto e o seu triste sorriso, inundando seu coração e sua alma com incertezas e culpa.

Sentiu o gosto de tristeza na boca.

— O que foi amor?
Amor?
Aquela voz... aquele rosto... aquele amor.

Não era ele. Era outro.

Outro amor. Um amor errado.

Ela engoliu as palavras, o choro, a dor. Olhou pra ele e sorrindo mentiu um novo amor. E num piscar de olhos inventou uma felicidade que não sentia, entregando um coração que já não mais existia.

— É emoção. Jamais fui tão feliz. 

Feliz?
Mentiu um amor.


Desamor.

Não era amor.

Um dia seria?

Ele sorriu, beijando sua boca com paixão, bebendo suas lágrimas, secando-as com delicadeza.

Com as batidas de seu coração caóticas, ela o abraçou, o beijou, e se torturou por ainda amar outro alguém.

Naquele momento, sentiu-se perdendo o rumo de seus próprios passos.

Sentiu-se apenas um traço do que era.

Seria capaz de amar de novo?

Talvez sim...

Lembrou dele, daquela beleza madura, lembrou da voz dele lhe dizendo adeus, as palavras ressoando naquele dia frio, o vento fustigando sua pele sensível, jogando fora as promessas, os planos, o amor.

Seria capaz de amar de novo?

Talvez não...

— Vai... Cuide-se bem.

Sua despedida. Sua únicas palavras. Seu adeus.

E desde aquele dia ela se perdia numa tentativa frágil e numa busca débil de procurar por ele em outros abraços, outras bocas, outros corpos.

Em vão...

Vivia mentindo um novo amor em silêncio. Como agora.

Ouvindo a poesia de um novo alguém.

Não era ele.

Era outro.

Uma nova tentativa.

Um novo amor.

Não era ele.

Seu novo amor sorriu novamente, beijando com ânsia seus lábios, mergulhando sua língua em sua boca com ousadia.

E ela fechou os olhos e imaginou...

Outro sentimento. Outra vida. Outro alguém. Outros braços. Outra boca. Outro amor.

Aquele amor do passado.

E se entregou.

Entregando apenas o corpo.

Pois seu coração pertencia a outro alguém.

O amor é uma tentativa eterna.



Clarissa Corrêa.




— Rosi Rosa.




O amor, quando acaba, parece que ele nunca existiu. Você olha pra pessoa, assim, na sua frente. E aí você fala: Pô, eu quase me matei por uma porcaria dessa aí?
Cazuza

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Te amei





"Te amei acima de qualquer coisa. Te amei enquanto todos me julgavam louco. Te amei aceitando suas falhas. Te amei enquanto deveria ter te odiado. Te amei enquanto você não me entendia. Te amei mesmo quando você me ignorava. Te amei apesar das suas ausências - te amei até me arrepender de ter te amado assim."

— Sean Wilhelm.