terça-feira, 8 de outubro de 2013

Olhos Secos, Coração Molhado


(...) Eu sei que em poucos dias, ele irá embora, e eu vou ficar aqui amargando uma saudade, mas porque ele é tão frio quando se trata de sentimentos? (...)





São Francisco, novembro, dia frio, triste, e porque não dizer solitário? Passeio pelo campus da universidade pensativa, avisto ele, ironicamente meu professor e amante, sentado em um banco com o olhar perdido, o que eu não daria para saber o que se passa em seus pensamentos, será que pensa em mim o tanto que eu penso nele?

A passos lentos, vou ao seu encontro, sento ao seu lado e minha mão roça em suas mãos frias, ele nada diz, apenas suspira e continua olhando para o nada.

Eu sei que em poucos dias, ele irá embora, e eu vou ficar aqui amargando uma saudade, mas porque ele é tão frio quando se trata de sentimentos? Nada diz, é um diálogo mudo entre o seu coração e o meu. O meu que tantas vezes grita um amor recente, mas verdadeiro!

Ouço um longo suspiro dele como se ouvisse meus pensamentos, e então enfim, ele quebra o silêncio, sua voz sai rouca, pausadamente:

_ Sara, eu sei que o que vivemos foi proibido, mas foi intenso... verdadeiro! Vou embora hoje a noite, antecipei minha volta à Las Vegas...

A cada palavra, uma punhalada em meu coração, ele iria embora, antes mesmo do dia previsto, sem dúvidas, ele fugia de mim e dos seus sentimentos. Tentei ser forte, tremia muito, e não era de frio, sabia que era um romance proibido, mas arrisquei e... me apaixonei.

Grissom continuava a falar, mas eu já não o ouvia, levantei sem olhar para ele, queria demonstrar uma força que eu não tinha naquele momento, com a voz trêmula, disse adeus e corri, queria estar longe dele, já que eu não iria vê-lo nunca mais, que a sua lembrança em minha mente fosse das horas em que passávamos nos amando.
Corri muito até me cansar, as lágrimas deixando rastros invisíveis pela grama da Universidade, distante de tudo e de todos, cai exausta de joelhos sobre o gramado e chorei, chorei um amor impossível, chorei a dureza de suas palavras, chorei a sua partida!

A vida tem sido dura comigo, uma infância infeliz, uma adolescência solitária, e agora uma juventude amarga! E tentarei de alguma forma esconder esse sofrimento.

As horas passaram sem que eu notasse, o gramado já se mostrava molhado pelo orvalho, devo ter adormecido em meio as lágrimas ali mesmo, levantei com certa dificuldade, o frio cortando a minha pele, ergui a cabeça e segui adiante, para meu dormitório e para uma vida regada a estudos, só isso que me restava agora, ser uma boa profissional, esquecer tudo o que vivi com o Grissom, me dedicar aos estudos e quem sabe um dia, ser feliz no amor!


“…faz de conta que ela não estava chorando por dentro ─ pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado”


* Clarice Lispector *

* Fim

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