quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Jogada num canto qualquer



Eu aqui, jogada num canto qualquer, perdida numa bagunça, esquecida nas suas memórias, virei um silêncio vazio, eu poderia ter sido muito mais que apenas isso. Eu aqui implorando uma atenção que era minha, rastejando aos pés de quem eu tinha, agora sou sua, mas você não é meu. 
E de quem é culpa? Se mal consigo identificar onde o erro começou e em que ponto do caminho tudo se perdeu. No meio de tanto desapego de tanto desassossego, você simplesmente se esqueceu de todos os motivos que me levaram até você. 
Eu virei um traço errado no seu desenho perfeito, um móvel empoeirado no canto da sala estragando a sua decoração, uma parede em branco, o estopim de uma guerra que não se pode vencer.
Eu que era uma música, agora sou o silêncio que dorme todas as noites dentro do seu pensamento e no lado da cama que vai continuar vazio quando todas as outras se forem. 
Eu sou a pausa que você guardou nas vírgulas das suas frases intermináveis, sou a sua vontade de se calar quando você fala demais pra tentar não se ouvir. Eu que era tudo hoje sou quase nada, sou aqueles minutos que você gasta da casa para o trabalho, olhando em volta sem ver. Aquele porta retrato vazio na gaveta, o vidro de shampoo pela metade no chão do banheiro. Eu sou o quebrado, o não inteiro. Sou aquela parte da sua consciência que está certa e que você nunca ouve. Sempre o silêncio, que você ignora nos bares que frequenta procurando ter barulho o bastante pra me sufocar.
Eu sou aquela foto na lixeira, sou aquele texto que você escreveu e não consegue se lembrar nem da primeira frase. Eu sou os dias de chuva que tem dentista. Eu sou a pessoa certa, aquela pessoa certa demais pra você admitir não merecer. Eu que era razão hoje não sou nem meia palavra que você não quis gastar pra me explicar, você era tão errado que virou nada, agora você é apenas todas as mensagens apagadas do meu celular.

 Isabel Marz 


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