segunda-feira, 26 de junho de 2017

Lágrimas no silêncio


É noite, tá frio, tá escuro, tá solitário. 
Sozinha em um quarto fechado, eu choro. Lágrimas no silêncio. Lágrimas de sofrimento. Lágrimas de solidão. 
Tantas lágrimas. Tanta dor. 
Eu tenho sentimentos feridos. Eu tenho emoções confusas. Eu tenho lembranças boas e ruins. Eu tenho um coração partido. Quebrado. 
Todas as dores juntas. Todas as lágrimas misturadas. 
Tá escuro. Tá frio. Tô perdida. 
Eu quero gritar, mas não tem ninguém pra me ouvir. 
Eu quero sorrir, mas a alegria me deixou faz tanto tempo. 
Tudo me deixa. Todos me deixam. 
Sozinha. 
Eu quero sentir o sussurro do amor sem deixar que as lágrimas no meu olhar me sufoquem, eu quero sentir um beijo leve em meus lábios tão devagar pra que eu possa me apaixonar lentamente. Eu quero amar, mas tudo o que me foi permitido foi a solidão. 
Não houve paixão e nem amor. Apenas dor. Escuridão.
Quebrada. Eu estou quebrada. Chorando no escuro onde ninguém possa rir da minha dor. Lágrimas no silêncio foi tudo o que me restou. 
Eu sou um disfarce durante o dia. Eu sou uma casca vazia. 
Eu dou risadas.  Eu finjo uma felicidade que não existe. É mais fácil fingir do que explicar cada dor que me aflige. Do que mostrar as marcas das minhas lágrimas riscadas em todo o meu rosto triste. 
É mais fácil fingir. É mais fácil fugir. De todos. 
É noite. Tá frio. Tá escuro. 
É a hora certa pra deixar cair as lágrimas. No silêncio. 

Rosi Rosa. 


domingo, 16 de abril de 2017

Eu o deixei ir




Eu o deixei ir, sem sequer pensar duas vezes. 

Eu acenei ligeiramente, os olhos embaçados por lágrimas não derramadas, minhas mãos trêmulas, meu coração pulsando freneticamente. Eu forço um sorriso surpreso, as palavras perdidas, ele está na minha frente depois de tanto tempo. Depois de partir sem dizer adeus. Depois de me deixar sozinha naquela casa vazia. Depois de rejeitar o meu amor. E eu só penso em fugir quando o vejo entrar pela porta da casa que foi nossa.
Ele sorri, aquele sorriso descarado dançando em seu lábios cheios, os olhos de um azul brilhante querendo me dizer que nunca partiu, que ficou, que me amou. Querendo me fazer acreditar nessa mentira que seus olhos me dizem, querendo me fazer esquecer o vazio, a dor, a solidão. A rejeição.
— William. - Seu nome passa rasgando por meus lábios, áspero, intenso, doloroso. Apaixonado?
Ele dá um passo querendo estar perto de mim. Lentamente eu me afasto, fugindo dele e da emoção de revê-lo. Dói demais. Dói tê-lo tão perto como se nada tivesse mudado, ou se quebrado, como se ele nunca tivesse partido.
Ele para, me olhando fixamente, o cenho franzido e os lábios apertados como se não soubesse o porquê eu estar insegura perto dele.
— Você está bonita, querida. - Ele diz, indiferente, mas sinto a emoção escondida por trás de sua indiferença e de sua voz enrouquecida.
— O que você quer? - Eu tento segurar as lágrimas e ignoro o seu elogio, e deixo a mágoa fluindo através de minhas palavras rudes, meu tom firme e desafiador.
— Eu quero você. - Ele diz num sussurro sutil. — E o seu amor. - A palavra "amor" é quase uma súplica, quase uma ofensa. Ele não sabe nada sobre o amor.
Eu quero ri de sua resposta rápida, mas uma lágrima solitária desliza do meu olho, escorrendo suavemente por minha face, parando em meus lábios abertos. Ele me quer? Agora?
Deixo escapar de meus lábios um suave murmúrio de aborrecimento. De saudade. De esperanças? Eu não quero sentir nada. Eu só quero esquecer. Tudo. Ele. Nós. Eu sei que com o tempo eu vou esquecer seu rosto. Vou esquecer aqueles olhos azuis maçantes. Eu sei...
Não digo nada, deixo o silêncio responder por mim, ele continua me olhando, olhando cada curva do meu corpo como se quisesse reaprender tudo sobre o qual ele perdeu ao me deixar nesse quarto vazio, seus olhos vagam para a cama, nossa cama no canto, perdida, esquecida, desfeita.
— Você me deixou, lembra? E não foi um maldito dia apenas. Foram meses sem você. - Rosno essa última parte, querendo que ele entenda, que vá embora. Que fique? Confusão nubla meus sentimentos quando estou diante do homem que amei uma vida inteira. Do homem que ainda estou aprendendo a esquecer, lentamente.
Puta merda, esse homem nunca vai sair da minha vida? Sempre vai voltar e bagunçar meu coração?
— Eu errei. - Ele deixa escapar ruidosamente, retorcendo as mãos de nervoso, talvez até de arrependimento. — Te deixar foi a porra de um erro. - Sua voz está rouca, seu tom quase desesperado. Meus olhos ficam no dele enquanto ele desvia seu olhar e balança a cabeça tristemente.
— Você errou... - eu começo baixinho, repetindo as suas palavras que causa tanta tristeza e dor. — Você apenas saiu no meio da noite, sem um adeus. E eu merecia um adeus e não apenas o seu silêncio e a minha solidão depois de tudo o que vivemos juntos. - O desafio a negar cada acusação que sai de minha boca ferozmente.
— Eu sei. Você merecia mais e eu te dei tão pouco. - Desconfortável, William deixa suas palavras e seus sentimentos soltos no ar com uma fragilidade que me assusta. — Prometo... - Ele não termina a sua promessa estúpida. E sou grata por isso. Eu não quero ouvir suas mentiras. O silêncio nos cerca por algum momento.
Eu apenas aceno fracamente com a cabeça, ainda presa nesse silêncio inquieto. Não há mais nada a ser dito. Ele foi embora. Eu sofri. Eu superei. Superei?
Não preciso dele aqui e é isso que digo em voz alta, deixando ele saber que eu sobrevivi sem ele e sem o seu estúpido amor.
Seus olhos se estreitam esperando que eu mude de ideia, que o puxe para os meus braços, que me entregue à luxúria de seus beijos ou na insensatez de seu amor quebrado e pela metade. Tempo perdido. Não farei isso.
William morde os lábios, respirando pesadamente, me olhando com insistência, me desafiando a aceitá-lo de volta, a amá-lo de volta.
Vá. Eu quero gritar.
. Me deixe mais uma vez.
. Mas dessa vez não leve o meu coração com você. O deixe aqui partido, para que possa se curar sozinho, mais uma maldita vez.
O silêncio que nos cerca é barulhento, os sentimentos mudos nos impedindo de quebrar essa linha tênue do amor distorcido e imperfeito.
Ele anda poucos passos, parando na minha frente, seus brilhantes olhos azuis marcados por lágrimas. Lágrimas? William se inclina sutilmente para baixo, me envolve em seus braços com delicadeza e me puxa em um abraço rápido e desajeitado, os olhos se fechando, a respiração acelerada, seus lábios tão próximos dos meus, ele me beija suavemente, arrastando sua língua em minha boca, provando minha incerteza. A intimidade inesperada. Esperada?
Deixo o toque dos seus lábios nos meus sem pressa, caloroso, o toque suave e persistente nos meus lábios quase me faz esquecer que eu não o quero aqui, que eu não quero seus beijos, não quero seus toques. Não quero o seu amor. Foi um beijo suave, nada muito exigente. Senti o coração disparar dentro do meu peito, tão cheio de lembranças silenciosas e desejos esquecidos.
Ele respirou fundo e sussurrou contra os meus lábios: "— Eu amo você, Sophie. Nunca deixei de te amar, acredite." - William grunhi suavemente seus sentimentos, suas palavras eram profundas, ásperas. Verdadeiras? Havia desejo e súplica na voz dele. E medo. E insegurança.
Não consegui resistir e lambi os lábios dele brevemente recuando em seguida, me afastando do calor erótico de sua boca e do perfume sedutor de seu corpo. Levantei os olhos, os lábios trêmulos. Uma lágrima escorreu por meu rosto.
Eu solto um suave — "Vá" — preso na garganta. William franziu a testa e mordeu o lábio com força, seu corpo aquecido, e sua respiração quente no meu rosto. Ele se vira e sai. Eu não digo para voltar. Eu o deixei ir dessa vez.
Estou cansada de compartilhar nossos corpos e não nossas vidas. Estou cansada de amar sozinha. Minhas lágrimas agora são uma confusão molhada em meu rosto, meus lábios provando as minhas lágrimas, minha tristeza e a incerteza do meu futuro... mais uma vez.
Eu o deixei ir, sem sequer pensar duas vezes. Com um beijo de adeus como uma última carícia cantarolando em todo o meu corpo excitado. E mesmo se eu quisesse esquecê-lo, meus lábios me lembraria desse último toque, desse último beijo. Meu coração me lembraria de sua declaração hesitante, do seu último olhar e do quão vulnerável ele se mostrou.
Deixei um leve sussurro sair dos meus lábios abertos e bater na porta fechada: "— Eu amo você, adeus."
E dessa vez, foi eu que o deixei ir. Da nossa casa e do meu coração.
Porém, meu teimoso coração pulsa uma pergunta inquietante: será que o deixei ir, esperando que voltasse?
—  Rosi Rosa.

domingo, 19 de março de 2017

Um amor que passou?


Quando tudo passa. Os dias. A dor. E o amor. 

Lembrei do dia que  fiquei te olhando, quando você foi embora, levando contigo  meu coração, levando os beijos e os abraços pra longe de mim. Levando o  meu amor...
Não olhou pra trás. Nem um último olhar ou um sussurro de adeus. Nada.
Não voltou.
Foi embora. Levando a sua imperfeição, o seu sorriso indecente  e seus olhos de gato. Me deixando sozinha. Com o seu silêncio e toda a minha solidão.
Nenhuma brisa soprou de volta o seu amor. Será que soprou em outro lugar? E o sopro de seu riso onde foi parar?
Nenhum grito de saudade te trouxe pra mim. Nem o silêncio sussurrou pra você voltar.
Foi embora. Tudo foi embora. Você. O amor. E o futuro que nunca tivemos.
Era pra ser você e eu. Sempre. E pra sempre.
Quem diria que depois de tantos planos juntos, restaria apenas eu sem você. Cheia de lembranças. De dor.
Restou saudade.
Apenas memórias.
Apenas... eu.
Apenas um sopro do passado.
Você não me amou.
E agora, eu  nem sei se você é capaz de amar.
E eu não sei viver sem amor.
Nossa música tocou ontem, amor em versos, quase me fazendo chorar.
 Te lembrar. Te querer. Te esquecer.
E de repente, a canção que um dia foi nossa, tornou-se  apenas mais uma canção de amor, não era mais da gente.
E sem que eu percebesse, você virou apenas lembranças de um amor que passou.


Rosi Rosa.

domingo, 13 de novembro de 2016

Eu ainda penso sobre o futuro


Eu quis tudo com você.

 Eu quis uma casa, filhos, cachorro. Eu quis uma vida ao seu lado. Eu quis a união de dois corações. Nossos corações.
Eu quis você por tanto tempo. E hoje, o que eu tenho?
Apenas saudades e memórias. Lembranças quase esquecidas. Fotos perdidas no fundo da gaveta. E planos desfeitos por sua indiferença.
Só sobrou restos de uma paixão que só eu senti. Restos de um passado esquecido por você.  Um passado nosso. Um passado meu.
Restou apenas o seu silêncio e a minha solidão.
Eu estou tão cheia de lembranças silenciosas de nós dois, que causa tanta tristeza e dor em meu coração.
O passado dói.
O presente dói. 

Eu tentei amar outras pessoas, beijar outras bocas, me aquecer em outros corpos... mas tudo o que eu pude pensar era em você e em nossos planos de um futuro juntos. Um futuro prometido que não aconteceu.
Eu queria ser o seu futuro, e hoje, sou apenas alguém que você conheceu no seu  passado. Mais que uma estranha. Menos que uma amiga.
E eu me pergunto, o que você é pra mim, depois de tanto tempo separados?
Alguém que eu amei? Alguém que partiu meu coração? Alguém que eu ainda amo?
Eu não sei. Só sei que ainda dói pensar em você, e no futuro juntos que não aconteceu.
Cada sentimento, cada pensamento, cada sensação, tudo ficou pra trás. Esquecido por você.
Meus dias de planejar o futuro já passou. Por sua causa.

Eu ainda penso sobre o futuro que teriámos.
Eu ainda penso em você, sabia?
Será que você ainda pensa em mim?

Rosi Rosa

sábado, 20 de agosto de 2016

Sonhos Perdidos


Sonhei
Acordei
Você
Sorrindo
Eu 
Chorando
Sonhei
Correndo
Você
Fugindo
Amor
Perdido
Amado
Partindo
Sonhei
Desejando
Você 
Comigo
Acordei
Chorando
Sonhos
Perdidos.

Meu coração grita pra ter você comigo. 
Me conforte. 
Me abrace. 
Me ame. 
É apenas um sonho.
Um sonho perdido. 
Entre risos e lágrimas, acordei sozinha. A cama vazia. 
Sem calor. Sem paixão. Sem amor. 
Sem você.
Vou ter que te esquecer. 
De novo.
Até o próximo sonho...




— Rosi Rosa.  

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Já me esqueceu?



"Não sei se você ainda é a mesma
Ou se cortou os cabelos
Rasgou o que é meu
Se ainda tem saudades
E sofre como eu.
Ou tudo já passou
Já tem um novo amor
Já me esqueceu."

— Chico Buarque.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

8 de Abril






Era o dia do aniversário dele.
Ela estava sozinha, lamentando. 
Ele? Feliz e amando outro alguém. 



Deitada, permaneci de olhos fechados, sem querer pensar no dia que acabava de amanhecer.

8 de Abril. 
Era o dia do aniversário dele. 
Eu estava tão cheia de lembranças silenciosas. 
Todas dele. Todas nossas. 
Sorrisos e lágrimas. 
Memórias perdidas no tempo, mas impossíveis de serem esquecidas.  
Fechei os olhos com força tentando apagar as lembranças dos beijos, dos abraços... tentando esquecer a sensação do corpo dele no meu. Do toque sedutor de seus dedos em minha pele aquecida. Dos lábios dele nos meus. Do coração dele batendo tão forte junto ao meu. Dos olhos dele, tão incrivelmente verdes e brilhantes fixos nos meus.
Não consegui. 
Eu ainda o respirava. O amava. O desejava. O queria ao meu lado. Agora. Sempre. 
Imaginei todos os aniversários que passamos juntos, lembrei das risadas, dos presentes... do amor que um dia sentimos. 
Amor?
Lágrimas escorreram pelo meu rosto, molhando meus lábios entreabertos e trêmulos. 
Era o dia do aniversário dele. 
E o meu sonho de amor havia acabado. 
Sonhos e planos destruídos, emoções que não vivi totalmente, amor que não declarei verdadeiramente e lágrimas que desperdicei inutilmente. 
Ele. Eu. Nós. Não existia mais. 
E será que um dia existiu?
Eu estava sozinha. 
As coisas nunca saem mesmo como a gente espera.
Os planos são desfeitos. 
Os sorrisos apagados. 
E o que resta? 
Apenas promessas quebradas e corações partidos. 
Apenas a solidão de mais um dia comum. 
Mais um dia sem ele. 
Tentei mais uma vez não lembrar dele, deixar que esse dia passasse como qualquer outro. 
Triste e solitário. 
Não consegui. 
E pensei... pensei muito. 
Nele. Sempre nele, droga!
No seu dia especial. 
Na comemoração com outras pessoas. 
Outro amor. Outro alguém no meu lugar. 
Nos sorrisos. 
Nos beijos. 
Nos abraços.
Nos presentes. 
No amor... Que não era mais meu. 
Como ele estaria agora? 
Feliz? Apaixonado?
Como esconder o ciúme que machucava o meu coração?
Seria egoismo meu desejar que ele também estivesse sofrendo nesse dia por não estar ao meu lado?
Sofrendo por não ter mais os meus abraços? 
Sofrendo por não ter mais os meus beijos? 
Seria egoismo?
Seria?
Era o dia do aniversário dele. 
E tudo o que eu podia pensar era na nossa separação. 
No adeus não dado. 
No último beijo perdido. 
Na declaração fugaz de um amor esquecido. 
Tanto sofrimento e tanta paixão. Perdidos. Dentro de mim!
Apertei os olhos com força, o coração disparado, o rosto úmido de lágrimas, dei um sorriso triste, tentando esconder a dor. 
A dor da solidão. 
Agora tudo o que eu podia sentir era mágoa. Decepção.
Uma vida sem amor. Mais solidão. 
Sem emoções, sem esperanças, sem sentimentos. Sem ele!
Era o dia do aniversário dele. 
Respirei fundo e sussurrei com paixão e amargura na voz:
— Parabéns pra você! - Eu o amo, murmurei. Ainda o amo?, pensei tristemente. Amo? Mesmo depois do adeus e do silêncio dele? 
Ainda o amo? 
Senti um aperto no coração e fiz uma prece silenciosa, apenas um leve murmurio de lábios semicerrados, desejando felicidades pro meu amor do passado:
— "Não pense que eu me esqueci, tem datas que é impossível de se esquecer: Feliz Aniversário!"
Uma lágrima escorreu por meu rosto, deslizando suavemente até meus lábios, murmurei o nome dele no quarto vazio e escuro, e por um breve momento vi que eu o amei por todas as razões erradas, que arrisquei meu coração em vão na certeza que um dia o teria por inteiro. 
Corpo, alma e coração. 
E no fim, sempre o tive pela metade. E eu queria mais, queria tudo...
Ele nunca me amou. Percebi que o amor machuca. E muito. 
Era o dia do aniversário dele. 
8 de Abril. 
Era o dia que eu iria esquecê-lo. 
Pra sempre.
— Adeus! Eu sempre amarei você. Feliz aniversário, Weslei. 
Foi um sussurro. Uma súplica. Um desejo.  Uma amargura. Uma dor. Um ressentimento. 
Um final.
Definitivo!




— Rosi Rosa. 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Página de amigos




Ele quer amizade, depois de provar o amor ao lado dela. Encontrou outro alguém. Outro amor.
Ela o quer, apenas. Amor, e nada mais. Ele, e nada mais.


Ele ligou terminando
Tudo entre eu e ele
E disse que encontrou
Outra pessoa...
O telefone tocou insistentemente, inundando o silêncio persistente e calmo do meu quarto. Era ele.
— Alô? - Inseguro, ele falou num tom macio de voz. Sorri largamente de alegria. Como eu o amava.
— Alô. - Disse num longo suspiro apaixonado, desejando ele ali comigo para uma noite de prazer e excitação. Uma noite inteira de amor em seus braços, sentindo o seu cheiro. Sentindo o seu coração bater próximo ao meu com aquela paixão desenfreada que ele sentia toda vez que fazemos amor.
Silêncio. Algo estava errado. Eu sentia o meu coração fremir perigosamente de ansiedade e de expectativa.
— Eu quero terminar. - Ele disse assim, sem rodeios, sem meias palavras. Sem hesitações. Meu coração começou a bater num ritmo acelerado, ao mesmo tempo em que sentia os meus joelhos bambearem e o meu corpo se retesar de surpresa e medo. Eu realmente tinha ouvido aquilo? Ele realmente tinha dito aquilo?
Terminar?
— Amor... - Comecei a falar num sussurro inquietante. Ele me interrompeu com um riso insensível, quase cruel.
— Eu encontrei outra pessoa. Me apaixonei por outra pessoa. - Eu reprimi um grito ao ouvir aquela sentença dita com indiferença e egoismo. Outra pessoa? Outra paixão? Quem? E eu? E nós? E o nosso amor? E tudo o que vivemos? Acabou?
Terminar! Tudo?
Resmunguei uma resposta, um grunhido, não sei, eu não tinha mais voz, eu não tinha mais chão. Eu não teria mais ele ao meu lado? As lágrimas desciam lentamente por meus olhos, escorrendo por meu rosto, molhando meus lábios trêmulos, manchando o meu amor por ele.
— Eu... Eu não estou entendendo. - Gaguejei, a voz baixa, estremecida. — Você. Encontrou. Outro. Alguém? E. Eu? - Falei pausadamente, respirando fortemente, soluçando as palavras fracamente.
— Eu sei que você ainda me ama. Eu sei que te amei. Mas acabou. - Ele estava tão calmo, a voz num tom tão suave, enquanto o meu coração se revoltava dentro do meu peito agitado.
— Amou? Acabou? - As palavras deixavam a minha boca num tom incerto, inseguro, incompleto. Devagar e sofrido. Eu te amo, quis dizer alto. Eu te amo, quis gritar.
— Entenda, o meu amor por você acabou. - Poucas palavras. Nenhum sentimento. Muito sofrimento.

Ele jogou os meus sonhos
Todos pela janela
E me pediu pra entender
Encarar numa boa...
Um sorriso. Dele.
Novas lágrimas. Minhas.
— Talvez seja melhor você esquecer nossos beijos, nossos abraços, nossos momentos juntos. - A voz dele saiu sedutora e fatal. Cruel demais. Insensível demais.
Nossas lembranças. Nossos beijos. Nossos abraços. Todos os momentos ao lado dele... Esquecidos?
— Esquecer tudo? - Disse, mordaz, infeliz. Inclinei o corpo, com a ponta dos dedos toquei meu peito, o coração saltitava desesperado, passei a língua ao longo dos meus lábios cerrados, lambendo o sal de minhas lágrimas. Sentindo um vazio, uma dor. Sentindo tanta tristeza e amargura.
Um novo silêncio preencheu aquele momento de angústia. Um estranho silêncio.
— Esquecer tudo? - Repeti num murmúrio, minha voz soou fraca e cheia de medo, forçando um sorriso frio e melancólico nos lábios estremecidos.
— Sim. - Ele disse com uma firmeza exagerada. Uma resposta curta, direta, dolorosa. E pra machucar ainda mais meu coração, ele brincou comigo... — "Por favor entenda o seu nome vai ficar na minha agenda na página de amigos".– Ele disse isso em poucas palavras. Tão lentamente. Tão certo. Tão distante. Indiferente à tudo o que vivemos juntos. Indiferente ao sofrimento que me causava com aquele rompimento repentino.
Ele havia se apaixonado por outra? Como? Quando? E ele queria ser meu amigo depois de tudo o que vivemos juntos? De todo o amor que sentimos?
— Como é que eu posso ser amiga de alguém que eu tanto amei? – Abruptamente gritei, desesperada, perdida, rejeitada. Rindo nervosa. Ouvindo os compassos frenéticos de meu próprio coração se quebrar em vários pedaços.
O que fazer? Implorar? Mas amor não se implora. Não se pede. Ou ama ou não ama. Será que eu amei sozinha todo esse tempo?
Silencioso, eu ouvia apenas o ressoar forte de sua respiração compassada. Será que ele não se sentia culpado por destruir os meus sonhos e planos com ele?
Encostei na porta e fui deslizando vagarosamente até o chão frio, esperando ele falar alguma coisa, qualquer coisa. Eu estava confusa e vulnerável. Eu estava despedaçada.
Ele não disse nenhuma palavra. Nada.
— Certo. - Disse relutante, aceitando o fim. Aceitando que não teria mais seus beijos. Aceitando que não teria mais seus toques. Aceitando que o perdi... pra outra. Outra.
Do outro lado da linha, a risada dele foi inesperada e rude.
Eu aproximei meus lábios ainda mais do telefone e declarei num sussurro, suplicando.
— Você disse que seria pra sempre. Que nós seriamos pra sempre. Que... - Ele me interrompeu com agressividade e raiva.
— Ninguém pode prometer que algo será para sempre. Nada é pra sempre. - Ele retrucou com voracidade, as palavras sendo cuspidas com sarcasmo. E desligou. Me deixou. Sozinha. A solidão insuportável querendo me abraçar a força, a casa vazia, o coração vazio, a vida vazia. Meus olhos brilhavam com lágrimas derramadas. Meu corpo inteiro estremecendo de sofrimento e mágoas.
Ele deixou sua marca de diferentes maneiras em minha vida, em meu corpo, em minha alma. E agora?
Sem amor. Sem paixão. Cruelmente rejeitada. E eu apenas queria amá-lo, pela última vez. Última vez?


Não sei o que eu vou fazer
Pra continuar a minha vida assim
Se o amor que morreu dentro dele
Ainda vive em mim...
Amigos? Seremos amigos? Soltei o telefone que caiu no chão ruidosamente e abracei o meu corpo com força bruta.
Como é que eu posso ser amiga de alguém que eu tanto amei?
Perdida em pensamentos, sentimentos e sensações, chorei a noite toda, esperando ele entrar por aquela porta, sorrindo daquele jeito debochado e sexy, dizendo que tudo fora uma brincadeira. Uma terrível brincadeira.
Não foi. Ele não voltou. E eu tive que enfrentar os dias de solidão com a cabeça erguida e o coração partido.
E hoje, depois de alguns meses, ainda sofro com o silêncio e a tristeza de mais um dia sem ele.
Ele ligou. Não atendi. Como ele quer ser meu amigo, se o amor que morreu dentro dele ainda vive em mim?

—  Rosi Rosa




N/A: Texto inspirado na música Página de amigos (Alexandre/Rick).
 Vídeo aqui




sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Era amor



Ele, professor.
Ela, aluna. 
Um amor impossível? 
Um romance proibido?

— Defina desejo. – Ele disse com um desafio na voz, perigosamente suave, sensualmente ousado, os olhos brilhantes de paixão fixos na delicadeza do rosto dela.  Sutil beleza e inocência.

— O que eu sinto por você. – Hesitante, ela o fitou, os olhos verdes penetrantes, a boca levemente aberta, o coração aos pulos.

Ela parecia nervosa.

Ele encostou seu corpo contra o dela, o olhar faiscando excitação e sorriu-lhe.

Ele parecia divertido.

— E amor? Como você o define, querida? – Carinhoso, ele perguntou com ousadia misturado com o inesperado medo da rejeição e o gosto amargo do proibido.

Ela não encontrava as palavras certas, a resposta certa. Ou talvez, fosse a mesma resposta da pergunta anterior: O que eu sinto por você.

Ele a tocou suavemente. Ela o olhou rapidamente. Apenas pequenos toques e olhares rápidos.

— Sonhos, poesia, beijos, paixão, sorrisos, desejo, romance, compaixão, perdão, promessas, abraços, prazer, amizade, loucura, intimidade, generosidade, sensações, felicidade, carinho, silêncios, confiança, pecado... – Com uma leve piscadela, ela foi falando pausadamente, a voz baixa e profunda fazendo-o tremer de excitação e ansiedade, ela umedeceu os lábios lentamente com provocação, ele lhe deu um meio sorriso, perdidamente apaixonado e dolorosamente excitado, em seu olhar azul um desejo explícito com o movimento sexy da língua rosada nos lábios carnudos. — ... Você. – Terminou com um pequeno sorriso nos lábios, a voz sedutoramente rouca. Aquelas palavras prometiam prazer absoluto e amor eterno, ele ofegou longamente e depois beijou-a nos lábios, um beijo demorado e suave.

Segurando o corpo delicado e sensual, ele beijou-a profundamente mais e mais, provando todo o seu amor, instigando todo o seu desejo.

Ela sentia o sabor dos lábios dele no seu. Ele sentia todo o amor de seus lábios em cada simples toque da língua feminina na sua.

Talvez fosse amor. Era amor? Ela ainda duvidava desse sentimento único e avassalador. 
Era desejo. 
Era prazer. 
Era paixão e fogo.
Era pecado.
Era urgência.
Era proibido.
Subitamente, ela soube o que era...
Definitivamente, era amor.

Sentimentos e sensações se misturavam naquele beijo. Ele sorriu, puxando-a ainda mais para a curva do seu corpo masculino e pecadoramente excitado.

Ele sentia as batidas do coração dela contra o seu corpo. Dois corações. Uma batida. 

— Eu amo você demais. – Sussurrou junto a sua boca, sua respiração quase uma carícia, disfarçando o seu sorriso, ela o beijou de novo, um beijo mais urgente, mais pecador, mais íntimo, sentindo aquele corpo longo e rígido colado ao seu corpo miúdo e macio, sentindo as batidas fortes do coração dele junto ao seu próprio coração.
Dois corações. Uma batida.

Ela o abraçou com força. 
Ele a beijou com ímpeto.

A boca exigia tudo. Lábios. Língua. Saliva. Amor... Os dois sabiam que não poderiam resistir àquele sentimento.

Era amor. 
Um amor quase proibido.

Um amor inusitado entre uma jovem aluna universitária e o seu tímido professor versado, perfeitamente respeitável.

O doce frescor da inocência misturando-se com o fulgor ardente da experiência.

Um romance proibido!? 
Mas, pra quê se preocupar? 
Era amor. E ponto final.


O amor é um abraço apertado, um olhar que se encontra, um silêncio que não incomoda (...)
— Clarissa Corrêa


— Rosi Rosa







domingo, 13 de setembro de 2015

"Fica."




"Eu fiquei! De um jeito ou de outro eu fiquei! Eu esperei e esperei e você… Nada. Nem uma palavra, nenhuma atitude. O que poderia fazer? Insistir em ser uma companhia vazia, que você nunca fez nenhum esforço pra manter? Eu poderia ter ficado por perto, bem perto e aguentado até às vezes que fosse insuportável ficar. Mas eu precisava saber que você queria, nem que você falasse mesmo baixinho: fica."

- Dona Geo