Eu o deixei ir, sem sequer pensar duas vezes.
Eu acenei ligeiramente, os olhos embaçados por lágrimas não derramadas, minhas mãos trêmulas, meu coração pulsando freneticamente. Eu forço um sorriso surpreso, as palavras perdidas, ele está na minha frente depois de tanto tempo. Depois de partir sem dizer adeus. Depois de me deixar sozinha naquela casa vazia. Depois de rejeitar o meu amor. E eu só penso em fugir quando o vejo entrar pela porta da casa que foi nossa.
Ele sorri, aquele sorriso descarado dançando em seu lábios cheios, os olhos de um azul brilhante querendo me dizer que nunca partiu, que ficou, que me amou. Querendo me fazer acreditar nessa mentira que seus olhos me dizem, querendo me fazer esquecer o vazio, a dor, a solidão. A rejeição.
— William. - Seu nome passa rasgando por meus lábios, áspero, intenso, doloroso. Apaixonado?
Ele dá um passo querendo estar perto de mim. Lentamente eu me afasto, fugindo dele e da emoção de revê-lo. Dói demais. Dói tê-lo tão perto como se nada tivesse mudado, ou se quebrado, como se ele nunca tivesse partido.
Ele para, me olhando fixamente, o cenho franzido e os lábios apertados como se não soubesse o porquê eu estar insegura perto dele.
— Você está bonita, querida. - Ele diz, indiferente, mas sinto a emoção escondida por trás de sua indiferença e de sua voz enrouquecida.
— O que você quer? - Eu tento segurar as lágrimas e ignoro o seu elogio, e deixo a mágoa fluindo através de minhas palavras rudes, meu tom firme e desafiador.
— Eu quero você. - Ele diz num sussurro sutil.
— E o seu amor. - A palavra
"amor" é quase uma súplica, quase uma ofensa. Ele não sabe nada sobre o amor.
Eu quero ri de sua resposta rápida, mas uma lágrima solitária desliza do meu olho, escorrendo suavemente por minha face, parando em meus lábios abertos. Ele me quer? Agora?
Deixo escapar de meus lábios um suave murmúrio de aborrecimento. De saudade. De esperanças? Eu não quero sentir nada. Eu só quero esquecer. Tudo. Ele. Nós. Eu sei que com o tempo eu vou esquecer seu rosto. Vou esquecer aqueles olhos azuis maçantes. Eu sei...
Não digo nada, deixo o silêncio responder por mim, ele continua me olhando, olhando cada curva do meu corpo como se quisesse reaprender tudo sobre o qual ele perdeu ao me deixar nesse quarto vazio, seus olhos vagam para a cama, nossa cama no canto, perdida, esquecida, desfeita.
— Você me deixou, lembra? E não foi um maldito dia apenas. Foram meses sem você. - Rosno essa última parte, querendo que ele entenda, que vá embora. Que fique? Confusão nubla meus sentimentos quando estou diante do homem que amei uma vida inteira. Do homem que ainda estou aprendendo a esquecer, lentamente.
Puta merda, esse homem nunca vai sair da minha vida? Sempre vai voltar e bagunçar meu coração?
— Eu errei. - Ele deixa escapar ruidosamente, retorcendo as mãos de nervoso, talvez até de arrependimento.
— Te deixar foi a porra de um erro. - Sua voz está rouca, seu tom quase desesperado. Meus olhos ficam no dele enquanto ele desvia seu olhar e balança a cabeça tristemente.
— Você errou... - eu começo baixinho, repetindo as suas palavras que causa tanta tristeza e dor.
— Você apenas saiu no meio da noite, sem um adeus. E eu merecia um adeus e não apenas o seu silêncio e a minha solidão depois de tudo o que vivemos juntos. - O desafio a negar cada acusação que sai de minha boca ferozmente.
— Eu sei. Você merecia mais e eu te dei tão pouco. - Desconfortável, William deixa suas palavras e seus sentimentos soltos no ar com uma fragilidade que me assusta.
— Prometo... - Ele não termina a sua promessa estúpida. E sou grata por isso. Eu não quero ouvir suas mentiras. O silêncio nos cerca por algum momento.
Eu apenas aceno fracamente com a cabeça, ainda presa nesse silêncio inquieto. Não há mais nada a ser dito. Ele foi embora. Eu sofri. Eu superei. Superei?
Não preciso dele aqui e é isso que digo em voz alta, deixando ele saber que eu sobrevivi sem ele e sem o seu estúpido amor.
Seus olhos se estreitam esperando que eu mude de ideia, que o puxe para os meus braços, que me entregue à luxúria de seus beijos ou na insensatez de seu amor quebrado e pela metade. Tempo perdido. Não farei isso.
William morde os lábios, respirando pesadamente, me olhando com insistência, me desafiando a aceitá-lo de volta, a amá-lo de volta.
Vá. Eu quero gritar.
Vá. Me deixe mais uma vez.
Vá. Mas dessa vez não leve o meu coração com você. O deixe aqui partido, para que possa se curar sozinho, mais uma maldita vez.
O silêncio que nos cerca é barulhento, os sentimentos mudos nos impedindo de quebrar essa linha tênue do amor distorcido e imperfeito.
Ele anda poucos passos, parando na minha frente, seus brilhantes olhos azuis marcados por lágrimas. Lágrimas? William se inclina sutilmente para baixo, me envolve em seus braços com delicadeza e me puxa em um abraço rápido e desajeitado, os olhos se fechando, a respiração acelerada, seus lábios tão próximos dos meus, ele me beija suavemente, arrastando sua língua em minha boca, provando minha incerteza. A intimidade inesperada. Esperada?
Deixo o toque dos seus lábios nos meus sem pressa, caloroso, o toque suave e persistente nos meus lábios quase me faz esquecer que eu não o quero aqui, que eu não quero seus beijos, não quero seus toques. Não quero o seu amor. Foi um beijo suave, nada muito exigente. Senti o coração disparar dentro do meu peito, tão cheio de lembranças silenciosas e desejos esquecidos.
Ele respirou fundo e sussurrou contra os meus lábios:
"— Eu amo você, Sophie. Nunca deixei de te amar, acredite." - William grunhi suavemente seus sentimentos, suas palavras eram profundas, ásperas. Verdadeiras? Havia desejo e súplica na voz dele. E medo. E insegurança.
Não consegui resistir e lambi os lábios dele brevemente recuando em seguida, me afastando do calor erótico de sua boca e do perfume sedutor de seu corpo. Levantei os olhos, os lábios trêmulos. Uma lágrima escorreu por meu rosto.
Eu solto um suave
— "Vá" — preso na garganta. William franziu a testa e mordeu o lábio com força, seu corpo aquecido, e sua respiração quente no meu rosto. Ele se vira e sai. Eu não digo para voltar. Eu o deixei ir dessa vez.
Estou cansada de compartilhar nossos corpos e não nossas vidas. Estou cansada de amar sozinha. Minhas lágrimas agora são uma confusão molhada em meu rosto, meus lábios provando as minhas lágrimas, minha tristeza e a incerteza do meu futuro... mais uma vez.
Eu o deixei ir, sem sequer pensar duas vezes. Com um beijo de adeus como uma última carícia cantarolando em todo o meu corpo excitado. E mesmo se eu quisesse esquecê-lo, meus lábios me lembraria desse último toque, desse último beijo. Meu coração me lembraria de sua declaração hesitante, do seu último olhar e do quão vulnerável ele se mostrou.
Deixei um leve sussurro sair dos meus lábios abertos e bater na porta fechada:
"— Eu amo você, adeus."
E dessa vez, foi eu que o deixei ir. Da nossa casa e do meu coração.
Porém, meu teimoso coração pulsa uma pergunta inquietante:
será que o deixei ir, esperando que voltasse?
— Rosi Rosa.